O meu duplo e eu nos olhamos nos
olhos. Não nos reconhecemos. Somos os mesmos, mas também somos estranhos. Ele
me repreende por eu não me manifestar plenamente. Eu o repreendo por se
esconder, ou numa timidez exagerada, ou numa exagerada criatividade. Talvez
este mundo não seja o nosso mundo. Talvez tenhamos chegado tarde para um mundo
demasiado novo, e talvez tenhamos chegado adiantados, com os olhos sedentos de
novidades, em um mundo velho, que não sabe desvencilhar-se de suas malhas
pesadas de séculos.
O meu duplo e eu nos olhamos nos
olhos e vemos quem somos e quem sonharíamos ser. Um não se contenta com o
outro, mas tem uma reserva contida quanto a cobranças. Somos atores
representando muito mal o seu papel. Representamos como se estivéssemos
ensaiando e, quando vemos, a plateia já se retirou, ou é outra, sempre
insatisfeita com o personagem que carregamos nas costas. Somos indecisos como o
asno de Buridan e, quando damos conta, o nosso personagem está fora de cena.
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