sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A torre



A TORRE


Subiu ao alto da torre, olhou o céu e o chão.
Teve uma vertigem, quase caiu.
O chão é tão baixo
e não para quieto, é como se o esperasse.
Quase caiu. Mas não subiu à torre
para isso mesmo, cair, jogar-se
naquele ato que chamam de suicídio?

O céu não está tão alto.
Algumas nuvens – talvez para aumentar a impressão
de estranheza,
de efêmero
e até de uma certa beleza.
O céu é azul – mas tanto sol não deixa ver o azul.
O céu é branco – luz que cega,
fere como uma lâmina imaterial.
Ele vai lançar-se para o chão
cada vez mais distante daquele céu.

Olhou o chão – lá embaixo, quase com volúpia.
Vai doer? Não haverá tempo para doer.
Haverá um corpo, ou o que resta de um corpo
e o sangue.
Uma poça de sangue
que se espraia imperceptivelmente.
Ele não tem nada a ver com essa poça de sangue.
Impessoal.
Um lapso de tempo entre ser e não ser
e ele já não é.

Os prédios mais altos, as montanhas mais altas
não estão perto do céu como ele.
Ergue os braços como se fosse voar.
O céu tão perto – os braços como se fossem asas.
O chão tão perto – as asas não voam.
Ele será um volume chocho caindo no chão.
Será um som chocho – puf!
e ele não existirá mais.

Depois que chegou até lá, o alto da torre –
não há caminho de volta.
O chão é uma tumba a sua espera.
Uma tumba – algo íntimo.
Ele será um coisa mole caindo do céu.

Sem dor.
Quando houver a dor – será tarde.
A dor de viver – isso será passado.
Nenhum pedaço de céu, nenhuma migalha.
A torre tão distante.
As asas não voaram.
Ele sempre soube que as asas não voariam.

Fecha os olhos.
Aspira o céu azul.
Morrer é encantar-se?
É acabar.
Adeus ao desespero sub-reptício, sob a pele. 





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