A TORRE
Subiu ao alto da
torre, olhou o céu e o chão.
Teve uma
vertigem, quase caiu.
O chão é tão
baixo
e não para
quieto, é como se o esperasse.
Quase caiu. Mas
não subiu à torre
para isso mesmo,
cair, jogar-se
naquele ato que
chamam de suicídio?
O céu não está
tão alto.
Algumas nuvens –
talvez para aumentar a impressão
de estranheza,
de efêmero
e até de uma
certa beleza.
O céu é azul –
mas tanto sol não deixa ver o azul.
O céu é branco –
luz que cega,
fere como uma
lâmina imaterial.
Ele vai lançar-se
para o chão
cada vez mais
distante daquele céu.
Olhou o chão –
lá embaixo, quase com volúpia.
Vai doer? Não
haverá tempo para doer.
Haverá um corpo,
ou o que resta de um corpo
e o sangue.
Uma poça de
sangue
que se espraia
imperceptivelmente.
Ele não tem nada
a ver com essa poça de sangue.
Impessoal.
Um lapso de
tempo entre ser e não ser
e ele já não é.
Os prédios mais
altos, as montanhas mais altas
não estão perto
do céu como ele.
Ergue os braços
como se fosse voar.
O céu tão perto
– os braços como se fossem asas.
O chão tão perto
– as asas não voam.
Ele será um
volume chocho caindo no chão.
Será um som
chocho – puf!
e ele não
existirá mais.
Depois que
chegou até lá, o alto da torre –
não há caminho
de volta.
O chão é uma
tumba a sua espera.
Uma tumba – algo
íntimo.
Ele será um
coisa mole caindo do céu.
Sem dor.
Quando houver a
dor – será tarde.
A dor de viver –
isso será passado.
Nenhum pedaço de
céu, nenhuma migalha.
A torre tão
distante.
As asas não
voaram.
Ele sempre soube
que as asas não voariam.
Fecha os olhos.
Aspira o céu
azul.
Morrer é
encantar-se?
É acabar.
Adeus ao
desespero sub-reptício, sob a pele.
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