domingo, 30 de maio de 2010
Retrato
Retrato
Cresci com o mato, dentro de um caramujo.
Tinha a boca cheia dos ovos do arco-íris,
De meus poros brotava barro feito rãzinhas caolhas,
O limo me cobre quando durmo.
Uma faca me degola para que eu me esqueça,
Mas no gume frio o sangue lembra.
A água me lava até às raízes.
Sou feliz de tarde com o sol se pondo
Ou no fim da chuva, na mágica do pássaro.
Sou torto como o tiziu amoroso de costas,
Meu pulo ninguém vê, nem minha lira.
Pouso na árvore como uma estrela e canto,
Com as mãos trêmulas converso o êxtase da minha terra.
Os meus pés andam os caminhos e voltam.
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7 comentários:
'ando pelo mato com meus pés vermelhos em busca de sementes. se não as encontro, avoo e caço a semente no ar...' boa semana brandão!
Esse eu-lírico deve nascer mesmo da terra, de tamanha sintonia com a natureza.
Beijo.
"Sou feliz de tarde com o sol se pondo
Ou no fim da chuva, na mágica do pássaro".
Realço estes versos... Penso que poderia ter sido eu a escrevê-los.
L.B.
É, o diálogo é sempre criativo!
Um abraço,
Maria Maria
Acredito que a poesia é a recuperação do paraíso perdido. Teus poemas falam desse êxtase que deve ter sentido o homem original.
A poesia 'anda os caminhos e volta'.
Grande abraço, meu amigo.
Brandão,
Retrato torto e feliz de vai-e-vens.
Abraços.
A poesia mais telúrica da blogosfera; adoro visitar seu espaço, sua poesia.
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