sexta-feira, 17 de julho de 2009

Testemunho

A Pedro Luso de Carvalho



Escrevo sobre o presente.
Tenho um saco de moedas na cintura
E os ombros curvos com a dor do meu tempo.
Escrevo para um tempo que nem papel tem mais?

Para um tempo que não existe, senão no mundo virtual?
Escrevo para o meu tempo, real como o sangue
Que escorre para a sarjeta, que as bocas-de-lobo engolem.
Qual é a minha febre? De onde vem?

Qual é o meu pavor? De que tenho medo?
Qual é a minha dor? Por que estou sofrendo?
A dor do mundo é a minha dor, e sangra

No momento em que escrevo, no presente.
Sou o homem emparedado no meu tempo,
Sou uma tocha a arder na noite, como o meu nome.

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Este poema é meu comentário ao poema Pedra de Toque, de Egito Gonçalves, que Pedro Luso de Carvalho publicou no seu blog (para visitá-lo, clique no título acima - Testemunho).

13 comentários:

Elma Carneiro disse...

Você escreve e muito bem para um precioso tempo que existe dentro de você.
Como é bom poder escrever nossas indagações dentro desse tempo.
Beijos

Adriana Godoy disse...

A questão do tempo mais uma vez possibilitando belos poemas como esse. Um poema reflexivo, que se engole aos poucos. Beijo.

nydia bonetti disse...

Os sentires do tempo ardem na noite e as dores do mundo doem em nós, embora muitos sigam, sem saber disto.
O tempo real, num mundo virtual: belo tema para uma reflexão, José Carlos. Beijo.

Anônimo disse...

Que lindo, encheu-me a dentro...ah...tempo,tenho saudades de um tempo que não volta...

Pedro Luso de Carvalho disse...

Amigo Brandão,

À vista dessa homenagem, a dedicação de seu excelente poema TESTEMUNHO, busquei uma forma de demonstrar meu agradecimento, qual seja, a de fazer a postagem, nesta seção 'Comentários', de um poema do excelente poeta português EGITO GONÇALVES, com força e profundidade semelhantes ao seu poema “Testemunho”, sem qualquer intenção de comparar um poema com outro, apenas para que seus leitores possam constatar, nessas paralelas, talentos semelhantes:


COM PALAVRAS

- de Egito Gonçalves

Com palavras me ergo em cada dia!
Com palavras lavo, nas manhãs, o rosto
e saio para a rua.
Com palavras - inaudíveis - grito
para rasgar os risos que nos cercam.


Ah!, de palavras estamos todos cheios.
Possuímos arquivos, sabemo-las de cor
em quatro ou cinco línguas.
Tomamo-las à noite em comprimidos
para dormir o cansaço.


As palavras embrulham-se na língua.
As mais puras transformam-se, violáceas,
roxas de silêncio. De que servem
asfixiadas em saliva, prisioneiras?


Possuímos, das palavras, as mais belas;
as que seivam o amor, a liberdade...
Engulo-as perguntando-me se um dia
as poderei navegar; se alguma vez
dilatarei o pulmão que as encerra.


Atravessa-nos um rio de palavras:
Com elas eu me deito, me levanto,
e faltam-me palavras para contar...


(da obra "O Vagabundo Decepado")


Um grande abraço,
Pedro

BAR DO BARDO disse...

fui ao egito, ao luso e ao brandão


luz em todos





(é difícil falar dos craques que chutam com as duas... )

Sonia Schmorantz disse...

Escreveste um lindo comentário, que bom o dividiu conosco também...
abraço e ótimo final de semana

Anônimo disse...

O temo passa e com ele nosssos sonhos, mas feliz daqueles que conseguem realizá-los.

Texto lindo amigo José Carlos.

Abraços.

Tais Luso de Carvalho disse...

Esse tempo virtual, agora é real: é um tempo que preenche, que comunica, e talvez satisfaça.
Sou de uma época em que se seguia uma trilha: procurar, esperar, amar e sofrer. Ou, simplesmente, tínhamos tempo para pegar o travesseiro, chorar e fazer um dramalhão.
Agora, ando meio em dúvida, já não sei qual sentimento é menos vacilante e mais verdadeiro, pois todos temos encontrado algo de positivo nessa virtualidade.

Também na vida real desacostumamos com atitudes mais atenciosas, com emoções mais concretas, de poder acreditar e compartilhar. Muitas vezes parece que é no mundo virtual que conseguimos trocar experiências, e talvez sermos mais ouvidos. Algo de bom deve ter.

Bj
Tais luso

lili laranjo disse...

Hoje sento-me e deixo...

Presença ausente

Estou aqui sentada
Lápis entre os dedos.
Um copo de martini ao pé de mim
Bebo um golo e deixo-me pensar…

O lápis corre vagarosamente o papel
O meu pensamento voa…
Como sempre – olho o universo…
Mas não consigo deixar de pensar em ti…

Queria ter-te aqui…queria estar contigo.
E saborearmos o ar livre…
Vagarosamente ponho o copo nos lábios…
Bebo o martini como um ritual… e continuo a sonhar…


Lili Laranjo

Fernando Campanella disse...

Lindo poema, Brandão, assim como o do Egito Gonçalves, poetas dialogando, dissecando a mesma dor.E as palavras sangram.

Anônimo disse...

O que eu posso falar:
Lindo!
Bjs.

Lou Vilela disse...

Através de um comentário seu deixado no VOZ, cheguei até aqui. Gostei bastante do espaço!

Abraços,
Lou