FOTOGRAFIA ANTIGA
José Brandão
Era uma fotografia antiga, amarelada, puída
nos cantos, puída até no nariz e nos bigodes do avô.
Os três tios estão em fila, uma escadinha,
olhando um para o outro com o canto dos olhos.
Estão bravos, estão ali contra a vontade.
As tias, essas, erguem as testas orgulhosas.
Uma quer aparecer mais do que a outra.
São quatro, são feias e se julgam o centro do mundo.
O meu pai e a minha mãe encolhem-se num canto da foto.
Não têm nada a dizer, nem precisam: estão em casa.
Por mais que a companhia desagrade, estão em casa.
Deus permanece a um canto da sala, onipresente.
Posso sentir o perfume de Deus na foto que se esfarela.
Meus cinco irmãos se acotovelam com sorrisos marotos.
Eu ainda não nasci.
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