O PALIMPSESTO
José Brandão
O
verdadeiro poema, o poema essencial, é o poema em estado de palimpsesto. O
poeta o escreve com o cuidado agônico de quem sabe que nunca atingirá a
perfeição. Depois escreve outro poema por cima, e outro em cima deste, e outro,
outro, outro, quase indefinidamente. Até que não se veja mais o primeiro poema.
Nem o último. Nenhum. Todos estariam perdidos na algaravia de textos sobre
textos, como de tinta sobre tinta.
É mais do que um palimpsesto. Não adianta raspar a tinta, não adianta raspar o último poema, o penúltimo, o antepenúltimo, e assim por diante. Nunca se chegará ao primeiro poema. O poema essencial é o poema em estado de palimpsesto. Tão essencial que nem se vê.
Nenhum comentário:
Postar um comentário