segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Ponta da Praia

 


A Ponta da Praia

 

Morei na Ponta da Praia, em Santos. Todos os dias via essa paisagem deslumbrante de sal e ar, de um perfume peculiar nas coisas. Imagino um cachorro balançando o rabo de um lugar para o outro, as narinas erguidas como a sorver a manhã. Um velho vem, uma jovem vai, uma criança para como se estivesse encantada.

E eu não estou mais lá. É como se minha saudade ainda perambulasse por aquelas muradas, contemplando o Forte, a praia da Pouca Farinha, os barcos que vão e vêm como se navegassem no ar.

Ali perto está a Escolástica Rosa, que me acolheu por tantos anos, e que eu não devia ter abandonado. Ah, meus meninos que mergulharam no abismo do passado para não me encontrar nunca mais.

Alguns alunos internos pegaram um barco emprestado e foram fazer molecagens no alto-mar, mas um deles (o Wilmar, que tinha o apelido de Sapo) não voltou nunca mais.

 

O silêncio na água.

O voo do adolescente –

viagem sem regresso.

 

 

Nenhum comentário: