quinta-feira, 7 de abril de 2022

É preciso ter um grande assunto

 


"O que é escrito sem esforço em geral é lido sem prazer." Samuel Johnson

Não foi só João Cabral que não dava valor ao que era feito sem esforço. Não porque é lido sem prazer, mas como um parâmetro mesmo do valor do texto.

Tenho pensado no caso ultimamente. Ou mais que ultimamente – sempre, no meu processo de criação. Se está fácil criar um tipo de texto, é como um alerta de que devo procurar um formato diferente, um tema diferente, um assunto diferente.

Como os temas ou assuntos nunca abandonam um autor, sinto necessidade de uma forma, um tipo de abordagem, uma voz (ou tom de voz). Exijo que um texto me desafie.

"Se queres fazer um livro poderoso, deves escolher um tema poderoso." Dizia Hermann Melville. Moby Dick foi um tema poderoso. Interessante que os contemporâneos de Melville não reconheceram que ele tinha criado uma obra poderosa. Preferiam os folhetos de segunda que ele escrevia antes.

Nem todos de segunda, como a formidável fábula do escrivão Bartleby.

Encontrei poucos temas poderosos na minha vida. Ou assuntos, é melhor chamá-los de assuntos. Às vezes esses assuntos se confundem com uma linguagem. Talvez seja o caso de Machado de Assis. Os seus grandes romances e contos desenvolvem grandes assuntos subordinados a uma linguagem específica.

Sigo o método. É preciso um grande assunto. É preciso trabalhar com garra esse assunto. É preciso criar uma linguagem para tratar esse assunto.

Desconfio se a criação estiver saindo com facilidade. Não será criação. O que é fácil todos podem fazer. A criação é singular. Quero dizer, o ato de criar é singular. É preciso ser único para atingir o múltiplo.

 

 

 

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