Picasso - Pinto e modelo
O POEMA E O POETA
Ninguém conhece o meu abismo.
Ninguém, o meu caos.
A poesia é um espelho, o poema é
um bronze infiel.
O poeta não tem a clareza da
superfície das águas.
É necessário uma faca para
esquartejar a realidade.
O poeta está sempre do outro lado
da lua.
O poema não tem sete faces, o
poema é um prisma de mil faces.
Joguem fora o meu cachimbo, joguem
fora a minha bengala.
As gaivotas morrem no mar, os
homens morrem na praia.
Eu sou um homem e a minha voz é
um eco da minha própria voz.
Quebrem o espelho, joguem fora o
poema.
Não se lê um poema para conhecer
o abismo do poeta.
O poema é o olvido e não se lê o
olvido.
.
“Um poema não lês,
não se lê o olvido.”
O Emparedado, 1975
2 comentários:
Gostei caro José Carlos de "O poema e o poeta", este seu poema que busca a perspectiva na possível distância em que se encontram a poesia e o poeta, como está, em parte, neste seu canto:
"A poesia é um espelho, o poema é um bronze infiel.
O poeta não tem a clareza da superfície das águas."
Uma ótima sexta-feira, José Carlos.
Pedro
Que bom que gostou, Pedro Luso.
Uma ótima sexta para você também,
e um ótimo fim de semana.
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