segunda-feira, 12 de novembro de 2018

França, 1918 (Centenário do fim da 1º Guerra Mundial)



FRANÇA, 1918


Cinco soldados atentos, inquietos, angustiados.
Um na primeira cratera de granada,
dois na segunda,
outros dois na terceira mais ao fundo.
Além, bem mais ao fundo, envoltos numa neblina de fumaça,
talvez estejam outros, todos esperando a morte.
As granadas abriram crateras, abrigos improvisados
para os escolhidos
para a ceifa da morte.
Uma foice comum cortará cabeça após cabeça.
Nesta guerra não há mais heróis,
mas vítimas, como trigo a ser ceifado.

A cratera maior em primeiro plano, cheia de água.
A água suja não reflete o sol,
não convida à sede.
Não há sol no céu: a terra
é escura, negra, da cor da morte.
Os soldados já perderam a sede e a esperança.
Estão vestidos para o frio.
A terra se encolhe encharcada: choveu a chuva da morte.
Nada. Ninguém. Desolação.
Uma forma minúscula esconde-se em um montículo de terra,
um rato nesta terra de ratos.
Os ratos roem o fio tênue da vida.

Os soldados ostentam chapéus esquisitos, de metal,
esses capacetes inventados para morrer.
Não protegem do sol ou da chuva.
Talvez protejam das granadas e dos tiros de fuzil.
São os chapéus do talvez.
A guilhotina da morte cairá, talvez hoje, talvez amanhã,
mas cairá. A morte é a única certeza.
A morte sempre foi a única certeza.

Os fragmentos de metal das granadas voam,
faíscas da morte belas como estrelas.
Os olhos do primeiro soldado são crateras numa face de pedra.
Dos outros, vê-se apenas a face de pedra.
Do segundo, não se vê a face,
talvez de um menino, que o capacete devora.

É triste, mas os homens são de pedra,
de terra, nesta seara, neste túmulo.
De pedra, como estátuas, onde se lê a dor fria da morte.
De terra, porque esses homens já retornam à terra, de que somos feitos. 
Esses homens inauguram a indústria da morte.
Não choram.
São monumentos que desabam.












 


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