FRANÇA,
1918
Cinco soldados atentos, inquietos,
angustiados.
Um na primeira cratera de granada,
dois na segunda,
outros dois na terceira mais ao fundo.
Além, bem mais ao fundo, envoltos
numa neblina de fumaça,
talvez estejam outros, todos
esperando a morte.
As granadas abriram crateras, abrigos
improvisados
para os escolhidos
para a ceifa da morte.
Uma foice comum cortará cabeça após
cabeça.
Nesta guerra não há mais heróis,
mas vítimas, como trigo a ser
ceifado.
A cratera maior em primeiro plano,
cheia de água.
A água suja não reflete o sol,
não convida à sede.
Não há sol no céu: a terra
é escura, negra, da cor da morte.
Os soldados já perderam a sede e a
esperança.
Estão vestidos para o frio.
A terra se encolhe encharcada: choveu
a chuva da morte.
Nada. Ninguém. Desolação.
Uma forma minúscula esconde-se em um
montículo de terra,
um rato nesta terra de ratos.
Os ratos roem o fio tênue da vida.
Os
soldados ostentam chapéus esquisitos, de metal,
esses
capacetes inventados para morrer.
Não
protegem do sol ou da chuva.
Talvez
protejam das granadas e dos tiros de fuzil.
São
os chapéus do talvez.
A
guilhotina da morte cairá, talvez hoje, talvez amanhã,
mas
cairá. A morte é a única certeza.
A
morte sempre foi a única certeza.
Os
fragmentos de metal das granadas voam,
faíscas
da morte belas como estrelas.
Os
olhos do primeiro soldado são crateras numa face de pedra.
Dos
outros, vê-se apenas a face de pedra.
Do
segundo, não se vê a face,
talvez
de um menino, que o capacete devora.
É
triste, mas os homens são de pedra,
de
terra, nesta seara, neste túmulo.
De
pedra, como estátuas, onde se lê a dor fria da morte.
De
terra, porque esses homens já retornam à terra, de que somos feitos.
Esses
homens inauguram a indústria da morte.
Não
choram.
São
monumentos que desabam.
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