ARGOS
O nome do cachorro era Argos.
Não era extraordinário como o
cachorro de Ulisses, da Odisseia.
O seu dono era mais ordinário
ainda, um poeta sem nenhuma importância.
Argos vigiava quando o poeta
escrevia – que nada atrapalhasse a criação,
o focinho erguido, as orelhas
empinadas, alerta contra o tempo e o mundo.
De manhãzinha e de tardezinha o
poeta levava Argos para passear
ou, mais propriamente, Argos
levava o poeta, como quem conduz um cego.
O poeta enxergava muito bem, mas
estava sempre ocupado
com a contemplação do universo
circundante e do seu universo interior.
Argos caminhava circunspecto,
como se fosse um poeta ao lado de outro poeta.
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