(meu pai e meu avô)
PALAVRAS
D’après Marianne Moore
Meu pai costumava dizer:
“Visita dá duas alegrias: quando
chega e quando vai embora.”
Não que não gostasse de visitas:
era o modelo do anfitrião,
Sempre um cavalheiro, orgulhoso
de servir ao outro.
Não citava autores importantes,
filósofos ou poetas
- embora conhecesse um ou
outro poeta.
Para ele a poesia e a sabedoria
– a mesma coisa, afinal –
Vinham da terra, da vida, dos
homens convivendo com outros homens.
Supérfluo o conhecimento que vem
dos livros,
Palavras que ficam, sem sangue,
sem a presença do homem.
Meu pai nunca escreveria um
poema: palavras vazias,
Numa folha de papel, no bronze,
no vago espelho do tempo.
O poema era o seu grito apartando
as vacas, os bezerros
No final do dia, cansado e
orgulhoso de existir.
E as visitas? Estamos na terra
de visita
À espera da alegria da partida.
Tudo é alegria, diria.
(Metamorfoses de Ofídio –
Paráfrases e paródias)
2 comentários:
"o poema era o seu grito"
Belíssimo
...sempre que leio os seus poemas vem a minha memória outro mestre, o Alberto Caeiro. Então mestre Carlos Brandão, parabéns pela simplicidade e grandeza do seu poema. Abraços, Graça Graúna
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