MARINHA
Eu amo o mar
com uma convulsão desesperada
as pombas
fremem sobre os pinheiros ao vento
das pedras da
montanha erguem-se tentáculos gigantescos
é a hora do
meio-dia e o sol fustiga o mar
A paz das
gaivotas desce sobre os rochedos brancos de espumas
o diamante
purifica a palavra do vinagre e do sal
eu trabalho na
altura suspenso sobre o abismo fatal
o sol rodopia
como um caracol com um anzol na língua
Qual é a causa
do dia e da noite com a sua volúpia azul?
as estrelas
despencam do céu com gritos inaudíveis
eu olho o mar
soberbo sob o céu coberto de presságios
o olhar
cintila sobre as ondas como um navio incendiado
Impossível
tamanha calma e espera queimando-se em silêncio
as estrelas
espiralam-se angustiadas vezes sem conta
cintila a água
cintila a terra cintila a dor com fúria infinita
o ventre se
dissolve aberto à fome dos abutres deserdados
O sol canta e
dança saboreando o naufrágio
os passos de
sombra do sol ao compasso das ondas
as ondas vão e
vêm como uma serpente devorando a si mesma
eu sou uma
serpente de chumbo devorando a mim mesmo
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