quarta-feira, 25 de setembro de 2013

MARINHA





MARINHA


Eu amo o mar com uma convulsão desesperada
as pombas fremem sobre os pinheiros ao vento
das pedras da montanha erguem-se tentáculos gigantescos
é a hora do meio-dia e o sol fustiga o mar

A paz das gaivotas desce sobre os rochedos brancos de espumas
o diamante purifica a palavra do vinagre e do sal
eu trabalho na altura suspenso sobre o abismo fatal
o sol rodopia como um caracol com um anzol na língua

Qual é a causa do dia e da noite com a sua volúpia azul?
as estrelas despencam do céu com gritos inaudíveis
eu olho o mar soberbo sob o céu coberto de presságios
o olhar cintila sobre as ondas como um navio incendiado

Impossível tamanha calma e espera queimando-se em silêncio
as estrelas espiralam-se angustiadas vezes sem conta
cintila a água cintila a terra cintila a dor com fúria infinita
o ventre se dissolve aberto à fome dos abutres deserdados

O sol canta e dança saboreando o naufrágio
os passos de sombra do sol ao compasso das ondas
as ondas vão e vêm como uma serpente devorando a si mesma
eu sou uma serpente de chumbo devorando a mim mesmo





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