POESIA MÍNIMA
Quero a poesia mínima
das ranhuras sem forma nenhuma
de uma pedra.
A LAGARTA
A lagarta preta e vermelha
tão humana
devora a folha verde da roseira.
O MENINO
O menino sorri em silêncio
com o cachorrinho morto
no colo.
A NÉVOA
A névoa fria
cobre os teus olhos
na montanha.
O GATO
A menina corre
atrás do gato, na chuva,
como se dançasse.
INFÂNCIA
Eu tinha a terra vermelha
nos pés e nas mãos
e na alma.
PINTASSILGO
Na minha janela
canta o mesmo pintassilgo
há cinquenta anos.
A ANDORINHA
A andorinha no fio
encolhida de tristeza
quando o sol se põe.
NO BOSQUE
Na trilha do bosque
uma borboleta azul
me acompanha.
O PERFUME
As pétalas caem
no caminho da montanha.
Fica o perfume no ar.
O ESQUELETO
Na casa em ruínas
um esqueleto gargalha
abraçado a uma pedra.
O CUCO
O cuco no escuro
canta com desespero
o tempo que cai.
A TATURANA
O menino grita
com o braço queimado
pela taturana.
SONHO
Pousada na parede
a borboleta mexe as asas
como se sonhasse.
O VAGA-LUME
O menino abre a mão,
o vaga-lume salta
com sua luz azul.
A PAINEIRA
Eu quero essa lua
e a minha infância sangrando
nos espinhos da paineira.
Foto: Sônia Brandão
Um comentário:
"Apenas o mínimo/ em matéria de máximo" (Leminski)
Brandão, tocante O menino. Abraços.
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