ARS POETICA
Um poema devia ser palpável e mudo
Como um fruto polpudo
Surdo
Como velhos medalhões de chumbo
Silencioso como a pedra gasta pelo uso
No peitoril das janelas onde cresce o musgo –
Um poema devia ser sem palavras
Como o voo das aves
Um poema devia restar imóvel no tempo
Enquanto a lua ascende
Deixando, enquanto a lua liberta
ramo a ramo o arvoredo noturno-emaranhado
Deixando, como a lua detrás das folhas invernais,
Lembrança por lembrança, a mente –
Um poema devia ser imóvel no tempo
Enquanto a lua ascende
Um poema devia ser igual a:
Não real
Por toda a história da dor
Um portal vazio e uma simples flor
Para o amor
A relva inclinada e duas luzes sobre o mar
Um poema não devia significar
Mas ser
Archibald Macleish (1926)
(Tradução: Luiz Roberto Guedes)
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