terça-feira, 23 de junho de 2009
Cristal
Cultivo a minha rosa no mais puro
cristal, mas uma febre me rói pétala
a pétala com uma fome louca
e da flor resta a jarra solitária.
Um cavalo galopa no meu peito,
com seus cascos de fogo me transporta
ao delírio, à neblina da memória.
Tenho uma cruz na boca, tenho terra
nos olhos e uma noite me solapa
cruel, sorrindo escárnio e pus e campa.
Leva-me a insânia numa sem regresso
viagem pelos pântanos escuros
da alma em sua procura esconsa e azeite
e sei quem sou na forma do poema.
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9 comentários:
gosto das palavras de terra,
que se elevam numa poesia maior
gosto do soneto, forma que consegues sublimamente.
grande abraço, José
A expressão da alma traduzida em um belo e delirante soneto. É o que acontece quando se é poeta de verdade.
"viagem pelos pântanos escuros
da alma em sua procura esconsa e azeite
e sei quem sou na forma do poema."
Especialmente esse terceto me tocou. Beijo.
Sabes quem és... na forma de qualquer poema que faças! E eu gosto sempre. Este teu soneto está belo. Adorei a segunda quadra, que continua no terceto...
Beijo meu, José
é um insano sonho
temos o medo muito
e o prazer por demais
é mundo outro
insano
sonho
Nós poetas, nosso id em suas pulsões, nossos gigantes da alma, nosso território de sombra recuperando os deuses, buscando a luz.
Belos soneto e foto. Envio-te um trecho de um poema meu, o 'Metáfora'. Abraços.
(Mais no mundo me tardo,
mais no comando de sombras
me esmero)
Deus conceda que me baste
este último apelo de náufrago:
a metáfora,
pétala incorpórea com que me visto.
(Trecho final do poema 'Metáfora', por Fernando Campanella)
"Cultivo a minha rosa no mais puro
cristal, mas uma febre me rói pétala
a pétala com uma fome louca
e da flor resta a jarra solitária."
Tão bonito!
Bjs.
Belíssimo soneto, José!
Somos muitos, mas se fossem todos como nós, e desculpe-me a imodéstia, em relação a mim, o mundo seria certamente melhor, poesia!
Um breve adeus!
josé
mesmo caminhando por entre pântanos e neblinas, nos poemas nos achamos... belíssimo, JC!
Bjs.
Reconhecer-se na forma de um poema! Talvez tenha razão, em um poema vamos do brilho a mais profunda tristeza, viajamos em sentimentos vários, como se todos sentimentos coubesse em um único compartimento...só mesmo um poema poderia traduzir tantas contradições que sentimos!
Um abraço
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