quarta-feira, 19 de junho de 2019

O poema e o poeta

                                                                                                                                                             Picasso - Pinto e modelo



O POEMA E O POETA


Ninguém conhece o meu abismo. Ninguém, o meu caos.
A poesia é um espelho, o poema é um bronze infiel.
O poeta não tem a clareza da superfície das águas.
É necessário uma faca para esquartejar a realidade.
O poeta está sempre do outro lado da lua.
O poema não tem sete faces, o poema é um prisma de mil faces.
Joguem fora o meu cachimbo, joguem fora a minha bengala.
As gaivotas morrem no mar, os homens morrem na praia.
Eu sou um homem e a minha voz é um eco da minha própria voz.
Quebrem o espelho, joguem fora o poema.
Não se lê um poema para conhecer o abismo do poeta.
O poema é o olvido e não se lê o olvido.

.
“Um poema não lês,
não se lê o olvido.”
O Emparedado, 1975













2 comentários:

Pedro Luso de Carvalho disse...

Gostei caro José Carlos de "O poema e o poeta", este seu poema que busca a perspectiva na possível distância em que se encontram a poesia e o poeta, como está, em parte, neste seu canto:

"A poesia é um espelho, o poema é um bronze infiel.
O poeta não tem a clareza da superfície das águas."


Uma ótima sexta-feira, José Carlos.
Pedro

José Carlos Brandão disse...

Que bom que gostou, Pedro Luso.
Uma ótima sexta para você também,
e um ótimo fim de semana.