quarta-feira, 24 de abril de 2019

Meu tempo

                                                                                                                              Kandinski



MEU TEMPO


O soldado me apontou o fuzil e atirou.
Os fuzis existem para atirar,
os soldados existem para matar.
Vivemos num campo cercado de arame farpado,
vivemos num mundo em guerra sem trégua,
estamos irrevogavelmente condenados ao extermínio.
Restam de nós estranhas palavras nas paredes,
não restarão as casas mas apenas as paredes
e aquelas palavras que serão os nossos nomes
impronunciáveis como fendas.
Fomos condenados ao exílio em nossa própria terra.
Crescem ervas daninhas entre as ruínas de nossas casas.
Deus abaixe a sua mão cruel, Deus tenha piedade.
Vivemos em um mundo em extinção,
o sal salga o chão que pisamos e não conserva vida nenhuma.








 

2 comentários:

Tais Luso de Carvalho disse...

Olá, José Carlos, gostei muito dessa nossa realidade que cantas acima!
que Deus tenha piedade de nós, cruzes!
Aplausos para realidade tão bem dita e escrita.
Beijo, um bom finalzinho de semana.

José Carlos Brandão disse...

Obrigado, Taís. Beijo, bom fim de semana.