sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A essência do milagre - realismo mágico

Estou participando do Prêmio Kindle de Literatura com o romance A essência do milagre.
Esse romance é um milagre. É mágico.
Em 2000, ganhei o prêmio Cidade de Belo Horizonte com um romance forte - Deus no prego -, mas não quero publicá-lo. É muito pessoal. Apesar da moda da autoficção. Ou por isso mesmo. Um romance tem que ser ficção. Se até a poesia é ficção.
Eu me orgulho é deste romancinho (é muito curto) - A essência do milagre. É mágico.







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A essência do milagre é uma obra na linha do realismo mágico que conta a história de um convento como uma fábula onde Jacinto busca o sentido da vida. Nesse convento não se precisava andar - era só entrar numa água azul e num passe de mágica teletransportar-se - e ninguém precisava falar para o outro conhecer os seus pensamentos, como a coisa mais natural do mundo, ali, o essencial parecia ao alcance da mão. Era como se Jacinto tivesse encontrado a perfeição. Mas os frades eram extraordinariamente humanos e Jacinto vai contaminar-se dessa humanidade difícil. Aos poucos, estará num beco sem saída.






terça-feira, 18 de setembro de 2018

Parada em Ventania


 Meu primeiro livro de contos publicado. Confiram!

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Parada em Ventania lembra os livros de ficção fantástica latino-americana com seus personagens tão sofridos que parecem viver em uma outra realidade.
É o menino aleijado das pernas que conhece o mundo só por ouvir a irmã contar e pela passagem irregular do trem. É o menino que vai embora da roça, despedindo-se do seu bezerro no pasto, durante a noite. É o menino assistindo ao pai tirar os espinhos do ouriço do cachorro. São as crianças órfãs que assistem ao pai armando a Árvore de Natal, sofrendo com a saudade da mãe.
É o marido que encontra a mulher na cama com outro, que persegue, mata e depois foge, mas encontra na estação ferroviária a vendeta da mãe desesperada. É a mulher que enlouquece de desejo e solidão, dividida entre o amor de dois irmãos. São os irmãos que se amam e são castigados pelos pais que pensam que somente um sofrimento como o de Cristo poderia purgar tal pecado. É o menino que mata o pai com um martelo para proteger a mãe com quem dorme e satisfaz seus precoces e primitivos desejos sexuais.
É a mulher que acorda na solidão em que vive procurando sinal de vida e, como não encontra, julga estar morta. É a cidade inteira tomada pela lepra, num tempo recordado incrivelmente com dor e saudade. É o jovem assistindo à primeira morte de sua vida, com sua estranheza como toda morte, talvez maior do que qualquer morte. É o homem que se suicida pensando que matara o amigo numa bebedeira, amigo que aparece na igreja durante a missa, com uma enxó na cabeça, mas muito vivo. É o casal cuidando da prostituta linchada pelas mulheres da pequena cidade, em sua cruel vingança. É a praga dos urubus que cobrem o céu da cidadezinha. É a peste que dizima todos os bichos do lugar e o cachorro do andarilho louco também atacado pela peste.
É a mocinha e seu canarinho encantado como se vivesse num mundo mágico. São os irmãozinhos que brigam por causa de uma abelha. É um cavalo encantado nas colinas da lua e o pai do menino que se encanta também quando busca o cavalo. É o menino que evita que os urubus roubem a carne-seca com pedradas certeiras de estilingue. É o amor por uma pombinha aleijada. É o menininho que contempla extasiado um velhinho e um pato nadando no lago.
É o matador fazendo a sua tocaia e a sua vítima que luta pela vida. É um cavalo ruim como o diabo e seu dono também ruim. É o homem que lembra uma vingança cruel de marido traído que assistiu quando criança É o amor de uma cadelinha feia e uma menininha feia também, e o padre que persegue a cadelinha, que é mais rápida no gatilho. É uma cena amorosa sobre um túmulo.







sexta-feira, 7 de setembro de 2018

LUZIA





LUZIA


O crânio sobreviveu a Luzia por milhares de anos,
não sobreviveu ao fogo.
Não existiam museus, não existiam políticos,
o homem poderia ser violento no tempo de Luzia,
mas era inocente.
Aquele ainda era um tempo de inocência.
Pobre este tempo nosso
em que não existe um resquício de inocência
fora aquela das menininhas
e das estrelas alfa.
No tempo de Luzia o homem era feliz,
não faltava nem um guizo ou um dente no pescoço
para anunciar a felicidade.
Hoje o homem clama por justiça
como um bem precioso e longínquo.
Sempre que há clamor por justiça
há falta de justiça.
No tempo de Luzia não se sabia o que era justiça,
não era necessário.
Hoje o crânio de Luzia sobreviveu ao corpo de ontem
e ao museu queimado.
Luzia é uma ideia e as ideias não se queimam.
Os homens passam, mas as ideias ficam.
Luzia é a ideia da pureza bruxuleando
neste nosso tempo escuro.






quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Poema da tarde de dor vestida


 

                     Poema da tarde de dor vestida



A tarde gemia sob os arreios, sob as esporas nas ancas e o freio comendo a boca. Um lençol veio de manso num cesto de vime e cobriu de morte a tarde. A tarde é uma égua sem lua, relincha no descampado com o algodão da morte nas ventas.
A guasca do vento semeia chumbo no lombo da tarde, vergasta o ventre sofrido o dedo de uma estrela raivosa. A unha de onça em brasa nas tetas gordas da tarde. Um chifre vara a coxa, a penugem do pulmão pequeno, de pomba, da tarde.
O relógio enlouquece com o espinho do silêncio no coração pequeno. A língua sangrenta da tarde na coivara da agonia. A tarde de dor vestida, com um relógio de ouro na argola das ventas. O relógio louco rumina o tempo numa baba de estrume fervente. O relógio não sai do lugar, na argola das ventas, na nuvem verde do estrume.
A rosa de luto se despe, pétalas de carne fremem. O pasto agoniza com a gangrena as virilhas comendo, a mata queima no aceiro do sol estripado pela seda verde. A guampa chama a lua, chama a lua a árvore debruçada no ribeirão. A água reflete sombra funda como um relógio morto.
Tempo terrível de um vaga-lume só. Ai tempo morto de um vaga-lume só.


             (poema em prosa de 1990)