segunda-feira, 19 de março de 2018

Descanse em paz, Marielle





Descanse em paz, Marielle


Andei pela cidade e não vi nenhum ornitorrinco
também não vi nenhum político
viver como um homem comum era o meu delírio
era dia claro como uma flor

mas eu caminhava na obscuridade noturna
todos os números são irracionais
os homens também
uma favelada morreu com nove tiros

e ainda está cantando na tribuna
a ampulheta dói ao sol e à chuva
Marielle morreu sonhando com uma andorinha
um elefante é mais pesado do que uma rã

a terceira guerra mundial mata primeiro os pobres
uma criança sangra em cada esquina
um negro bêbado escreveu Policarpo Quaresma
ela morreu segurando uma flor em cada seio

a metamorfose da mulher à beira da vida
Marielle morreu exatamente às cinco da tarde
mas todos os relógios estavam quebrados
e tossiam como velhos compenetrados

era a quebrada da tarde e as aranhas teciam
os números complexos da vida simples
agora descansa em paz
mas a lápide é seca e pesa demais




Nenhum comentário: