quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O MEU DUPLO E EU


O meu duplo e eu nos olhamos nos olhos. Não nos reconhecemos. Somos os mesmos, mas também somos estranhos. Ele me repreende por eu não me manifestar plenamente. Eu o repreendo por se esconder, ou numa timidez exagerada, ou numa exagerada criatividade. Talvez este mundo não seja o nosso mundo. Talvez tenhamos chegado tarde para um mundo demasiado novo, e talvez tenhamos chegado adiantados, com os olhos sedentos de novidades, em um mundo velho, que não sabe desvencilhar-se de suas malhas pesadas de séculos.
O meu duplo e eu nos olhamos nos olhos e vemos quem somos e quem sonharíamos ser. Um não se contenta com o outro, mas tem uma reserva contida quanto a cobranças. Somos atores representando muito mal o seu papel. Representamos como se estivéssemos ensaiando e, quando vemos, a plateia já se retirou, ou é outra, sempre insatisfeita com o personagem que carregamos nas costas. Somos indecisos como o asno de Buridan e, quando damos conta, o nosso personagem está fora de cena.






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