sexta-feira, 12 de maio de 2017

ARGOS








ARGOS


O nome do cachorro era Argos.
Não era extraordinário como o cachorro de Ulisses, da Odisseia.
O seu dono era mais ordinário ainda, um poeta sem nenhuma importância.
Argos vigiava quando o poeta escrevia – que nada atrapalhasse a criação,
o focinho erguido, as orelhas empinadas, alerta contra o tempo e o mundo.


De manhãzinha e de tardezinha o poeta levava Argos para passear
ou, mais propriamente, Argos levava o poeta, como quem conduz um cego.
O poeta enxergava muito bem, mas estava sempre ocupado
com a contemplação do universo circundante e do seu universo interior.
Argos caminhava circunspecto, como se fosse um poeta ao lado de outro poeta.







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