sábado, 13 de fevereiro de 2016

QUARTA-FEIRA DE CINZAS







QUARTA-FEIRA DE CINZAS


Porque a dor é nossa, Senhor
Porque nascemos para sofrer até o dia da nossa morte
Porque sabemos que o tempo é curto e a dor, longa
Porque sabemos que o sentido da nossa vida é dado pela dor

Porque sabemos que a glória é efêmera
Porque sabemos que o poder é igualmente efêmero
Porque conhecemos quem somos até onde nos é dado conhecer
Isto é, conhecemos quem somos até a superfície
Vestimos uma máscara para nós mesmos
A máscara nos revela a nós mesmos, é nosso espelho mais perfeito

Porque somente a terra permanece
Voltaremos à terra de que somos feitos
Comeremos as ervas da terra pela raiz
Comeremos terra até explodirmos
Porque somente a terra é o nosso destino
As tartarugas levam o tempo nas costas com a lentidão do vácuo
Somente a sabedoria do vácuo é nossa

Dizei uma palavra, Senhor
O meu poema precisa apenas de uma palavra
Não nos é dado resistir mais que o necessário
Precisamos apenas de tua palavra, Senhor, para resistir 
Mas qual é a tua palavra, Senhor?

As horas caem
As rosas caem
Os ossos caem
Caminhamos para o oblívio, Senhor
O oblívio é o nosso destino, nada mais nos é dado
É doce e leve o oblívio, Senhor
Somos cegos pela tua luz que vem do começo dos tempos, Senhor
Somos quase felizes, conhecemos a nossa dor e somos felizes




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