HAIKU DO PÁSSARO

HAIKU DO PÁSSARO

O poema às vezes

não precisa de palavras

basta um pássaro

HAIKU DA ÁGUA

HAIKU DA ÁGUA

A água é triste.

Num poço ou num copo d’água

mora um afogado.

BAURU DAS ANÁFORAS

BAURU DAS ANÁFORAS

Bauru dos trens partindo rumo ao infinito

Bauru da cruz que floresceu no descampado

Bauru do sanduíche de Casimiro Pinto

Bauru nascida de um relógio atrasado

Bauru como templo das artes e do conhecimento

Bauru da Baixada do Silvino, do Bosque e do Horto

Bauru das ruas da memória e do esquecimento

Bauru das gabirobas nos campos do aeroporto

Bauru do arco-íris chorando sobre as casas

Bauru ungida com o óleo da copaíba

Bauru da búrica ao sol e da sinuca nas madrugadas

Bauru símbolo simples e completo da vida

Bauru multiplicando as palavras e a paisagem

Bauru dos espantos de Rodrigues de Abreu

Bauru iluminando as coisas e as imagens

Bauru da areia branca como poalha de estrelas

A MINHA LÍNGUA

 A MINHA LÍNGUA

A minha língua nos teus lábios

Sou um estranho na estrada

As lágrimas da aurora me alucinam

O vermelho das rosas como sangue

O meu coração pulsa

Deus rumoreja na fonte do bosque

Um cachorro vem lamber o sangue do meu peito

O VERBO SANGRA

EU AMO O AZUL

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O POÇO DOS DESEJOS

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A POESIA E AS COISAS

    

                                    A POESIA E AS COISAS

A poesia quer a coisa além da imagem

Vai para a frente da imagem  

O poeta tem o céu como abismo

O silêncio susta a respiração

A poesia é a falta de ar

O poeta é o outro

As coisas quebram o espelho