quinta-feira, 24 de julho de 2014

O PEREGRINO






O PEREGRINO


O peregrino bate à tua porta
com a luz da aurora nos olhos

Ainda não é chegada a hora
mas partes

Ainda é cedo
mas segues o peregrino

Ele caminha
atrás da distância infinita

O apelo do horizonte
talvez o abismo
talvez o nada

Segues o peregrino com todas as forças da tua alma







segunda-feira, 21 de julho de 2014

SONETO DA PRECISÃO






SONETO DA PRECISÃO


A pedra não precisa de palavras
A árvore não precisa de palavras
O pássaro não precisa de palavras
A água não precisa de palavras

A terra não precisa de palavras
O peixe não precisa de palavras
A estrela não precisa de palavras
O anzol não precisa de palavras

A lua não precisa de palavras
O boi não precisa de palavras
O dia não precisa de palavras

O olhar não precisa de palavras
O girassol não precisa de palavras
O sol não precisa de palavras

O poema precisa de palavras







sábado, 19 de julho de 2014

DE GUSTIBUS NON DISPUTANDUM







DE GUSTIBUS NON DISPUTANDUM  


Eu gosto da casa, mas prefiro os tijolos
Eu gosto da água, mas prefiro os peixes
Eu gosto das árvores, mas prefiro os pássaros
Eu gosto da montanha, mas prefiro o mar

Eu gosto da sombra, mas prefiro o sol
Eu gosto da praia, mas prefiro o horizonte
Eu gosto do sino, mas prefiro as nuvens
Eu gosto do deserto, mas prefiro a caverna

Eu gosto da cama, mas prefiro a mesa
Eu gosto da palha, mas prefiro o milho
Eu gosto da mulher, mas prefiro a terra
Eu gosto do homem, mas prefiro as pedras

Eu gosto da pintura, mas prefiro a parede
Eu gosto de música, mas prefiro o silêncio
Eu gosto da palavra, mas prefiro o olhar
Eu gosto de poesia, mas prefiro as coisas







sexta-feira, 18 de julho de 2014

OVOS MEXIDOS







OVOS MEXIDOS


Pergunta se eu quero ovos mexidos
e me dá ovos cozidos
Pergunta se eu quero ovos mexidos
e me dá ovos fritos
Pergunta se eu quero ovos mexidos
e me quebra um ovo na cara




segunda-feira, 14 de julho de 2014

NIETZSCHEANA







NIETZSCHEANA


a aranha fia
ao luar
entre as árvores

o instante
a aparição
do ser

a ampulheta
do existir
virada outra vez

e você é só
o pó a poeirinha
que cai





quarta-feira, 9 de julho de 2014

A POESIA NÃO TEM TEMPO PARA SALVAR O MUNDO









A POESIA NÃO TEM TEMPO PARA SALVAR O MUNDO

A poesia não tem tempo para salvar o mundo.

O sol não se levanta para todos,
há muitas vítimas que nunca mais verão a luz do sol.
Tudo acontece ao mesmo tempo:
quando vemos, já está na hora de morrer.
As guerras apressam a morte que tinha que vir,
as guerras ou a peste, tudo dá na mesma.
Pisei numa pétala de rosa caída no caminho,
se não pisasse ela morreria de todo jeito.

A poesia não tem tempo para salvar o mundo.

As crianças morrem, os velhos morrem, os homens e as mulheres morrem.
O poder, os governos, os políticos matam mais do que qualquer peste.
Eu quero ouvir o canto de um pássaro, admirar a beleza das suas penas,
mas quando vejo, o pássaro com seu canto e sua beleza estão mortos.
Eu vi uma cabeça de mulher esmagada, a língua ainda dizendo o nome de Deus.
Eu vi uma criança agonizando com uma boneca ensanguentada nas mãos.
Eu vi um jovem soldado com sangue escorrendo da boca.
Eu vi um oficial ferido, sem forças para falar, mas ainda dando ordens de morte.

A poesia não tem tempo para salvar o mundo.