quarta-feira, 31 de julho de 2013

HAICAIS NA ÁRVORE





Um buraco na árvore
como um coração
seco.

Tinha um olho de vidro
que lustrava para brilhar
pelo menos esse.

Tinha uma mosca
na minha sopa
sabia nadar.

Da minha janela
olho o quintal sujo
do mundo.

Fechado no quarto
o velho em solidão
como um sapo.

O sábio e o mendigo
dormem de boca aberta
comem mosca.

O que está escrito
no tronco da árvore?
Dói.







sexta-feira, 26 de julho de 2013

O JATOBÁ (e outros poemínimos)






O JATOBÁ

O jatobá sobe
para o céu de julho frio
- ai, cai para o alto.


AS PÉTALAS

Piso as folhas secas
e os espinhos das roseiras.
As pétalas brilham.


TV

Na casa fechada,
um esqueleto na sala
assistindo à tv.


O CUCO

O cuco canta alegre
o tempo que cai  e se quebra
como uma taça.


A LAGARTA DE FOGO

Sob a goiabeira
uma lagarta de fogo
me queima a pele e a alma.


A LAGARTIXA

A fria lagartixa
esquadrinha a solidão
da parede do quarto.


VAGA-LUME

Tenho um vaga-lume
numa caixa de fósforos.
Preso, brilha e salta.


PAINEIRA

Abraço a paineira
apesar dos espinhos
– é a minha infância.






quarta-feira, 24 de julho de 2013

A BORBOLETA VERDE (e outros poemínimos)









A BORBOLETA VERDE

A borboleta verde
entre as pedras, o mato verde
e o arame farpado.


A NÉVOA

A névoa cobre o vale
e a tua imagem perdida
no lago.


O MENINO

O menino foge
dos marimbondos no mato
e do touro no pasto.


VERDE

Eu tenho nos olhos
o orvalho verde da infância
­– a terra me espera.


CORUJA

Na minha janela
uma coruja dormindo
me faz companhia.


ANDORINHA

A andorinha pia
sob a sombra do crepúsculo
suave, sobre o lago.






segunda-feira, 22 de julho de 2013

O PICA-PAU e outros poemínimos







O PICA-PAU

O pica-pau no poste
telegrafa a sua mensagem
para o universo.


A VACA

A vaca espanta as moscas
com o rabo, com as patas
sob o perfume do estrume.


O OVO

O ovo fechado
como uma pedra
– e a vida dentro.


A LAGARTA

A lagarta sonha
as cores da borboleta
(e devora o tempo).


A MENINA

A menina chora
a boneca quebrada
– sonha a nuvem, a névoa.





sexta-feira, 19 de julho de 2013

Poesia mínima




POESIA MÍNIMA

Quero a poesia mínima
das ranhuras sem forma nenhuma
de uma pedra.


A LAGARTA

A lagarta preta e vermelha
tão humana
devora a folha verde da roseira.


O MENINO

O menino sorri em silêncio
com o cachorrinho morto
no colo.


A NÉVOA

A névoa fria
cobre os teus olhos
na montanha.


O GATO

A menina corre
atrás do gato, na chuva,
como se dançasse.


INFÂNCIA

Eu tinha a terra vermelha
nos pés e nas mãos
e na alma.


PINTASSILGO

Na minha janela
canta o mesmo pintassilgo
há cinquenta anos.


A ANDORINHA

A andorinha no fio
encolhida de tristeza
quando o sol se põe.


NO BOSQUE

Na trilha do bosque
uma borboleta azul
me acompanha.


O PERFUME

As pétalas caem
no caminho da montanha.
Fica o perfume no ar.


O ESQUELETO

Na casa em ruínas
um esqueleto gargalha
abraçado a uma pedra.


O CUCO
O cuco no escuro
canta com desespero
o tempo que cai.


A TATURANA

O menino grita
com o braço queimado
pela taturana.


SONHO
Pousada na parede
a borboleta mexe as asas
como se sonhasse.


O VAGA-LUME
O menino abre a mão,
o vaga-lume salta
com sua luz azul.


A PAINEIRA

Eu quero essa lua
e a minha infância sangrando
nos espinhos da paineira.


Foto: Sônia Brandão






sábado, 13 de julho de 2013

POESIA E TRANSCENDÊNCIA

     


       Acho que dois ou três pontos desta entrevista ao site Curta Bauru merecem ser considerados:


             
                 http://curtabauru.com.br/2013/07/09/jose-brandao/









segunda-feira, 8 de julho de 2013

PÊNDULO






 PÊNDULO


o pêndulo vai
o pêndulo vem

as horas vêm
as horas vão

vêm e vão
vão e vêm

não em vão?
as horas não

o pêndulo vem
o pêndulo vai

o pêndulo insiste
o pêndulo triste

quando se vê
o dia acabou

quando se vê
a vida acabou

as horas vão
as horas não