segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

OS CISNES NEGROS






OS CISNES NEGROS


Não é todo dia que passa
a sua frente
um casal de cisnes negros,
ela escreveu.

Passam andando na frente da gente
e são cisnes negros,
negros como a página à espreita
do poema branco.

Dizem que os cisnes brilham
na luz dourada do sol,
mas eram cisnes negros.
A surpresa da poesia iluminou a página negra.






                                      À minha sobrinha Ivana Lima, autora da foto e da primeira frase do poema.

                                      JCMBrandão

                                         



sábado, 12 de janeiro de 2013

A EXECUÇÃO DE WLADIMIR HERZOG





A EXECUÇÃO DE WLADIMIR HERZOG


Wladimir Herzog não tinha nada a dizer
a seus algozes.
Recebeu as pancadas uma a uma,
sentiu o seu corpo vergar de dor
até que uma nuvem lhe cobriu olhos
e não sentiu mais nada.
As pancadas continuaram ferozes
contra o seu corpo morto.
Quem teve a ideia de pendurá-lo
numa das barras de ferro da janela
como se tivesse se suicidado?
                                    – Um morto não se suicida. 








sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A EUGÉNIO DE ANDRADE





 


A EUGÉNIO DE ANDRADE


Contemplo a minha imagem
na água clara do dia.
Eu sou a distância sem fim,
a minha sede é imensa.

Palavras, palavras
e um banho de espuma.
A água corre, se renova,
eu nunca sou o mesmo.

Inscrição na parede da caverna
primeira, virgem, única.
A palavra – relâmpago! –
instaura a luz.

Desenhos traçados na praia
pelas águas e algas do mar.
Poesia escrita na areia
para o vento apagar.





segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

MEMÓRIA (e-book Memória da terra)


     

       Um pouco de memória - ainda mais quando é a memória do meu 7º livro, Memória da terra. Abaixo, a orelha.


Estes poemas telúricos

O mal do homem contemporâneo é ter perdido as suas raízes, não sabe mais quem é, quem são os seus ancestrais, qual é a sua ligação com a natureza e com os outros homens. Como uma árvore, o homem tem suas raízes plantadas no lugar onde nasceu, onde a sua família se desenvolveu, onde cresceu, em contato com outras pessoas como ele.
Meu bisavô João Ventura veio de Minas para Dois Córregos, SP, e abriu a fazenda Matão, que foi dividida para seus herdeiros em várias pequenas fazendas. Eu nasci numa dessas fazendas. Pude escrever estes poemas telúricos porque tenho minhas raízes nesse lugar.
Poesia é imagem. Cria-se um poema com o trabalho da linguagem para criar imagens, que só podem nascer de elementos concretos que fazem parte do mundo pessoal do poeta, do lugar em que ele viveu.
“Canta a tua aldeia e cantarás o mundo”, diz Tolstoi, que Miguel Torga complementa: “Do meu Marão nativo abrange-se Portugal; e, de Portugal, abrange-se o mundo.” A minha proposta é mais modesta: eu recrio imagens de outras paisagens para reinventar o meu Matão.
Estes poemas telúricos, ou seja, do planeta Terra, mas também da minha terra. Eis Memória da terra, o livro que comecei a escrever há vinte anos e que agora concluo e lhe entrego, amigo leitor.                            
  
   J. C. M. Brandão






                       

                             e-book aqui: http://issuu.com/jcmbrandao/docs/mem_ria_da_terra