sábado, 29 de setembro de 2012
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
O PÁSSARO
O PÁSSARO
– Pássaro, o que você procura nos meus livros?
Tudo lhe é estranho neste meu pequeno quarto.
– Nem vejo o seu quarto, estou longe de você.
Nunca deixei os meus bosques, estou sobre a árvore
onde fiz o meu ninho, entenda doutra forma
Tudo o que lhe acontece, esquece este pássaro.
– Mas eu vejo de tão perto seus pés, seu bico.
– Sem dúvida você aproxima as distâncias,
Não tenho culpa se os seus olhos me encontraram.
– Mas você está aqui, já que me responde.
– Respondo porque sempre tive medo do homem.
Eu alimento os meus filhotes, sem descanso,
Eu os guardo escondidos no fundo de uma árvore
Que eu cria tão fechada como as suas paredes.
Deixe-me no meu galho, guarda suas palavras,
Tenho medo das suas ideias como de um tiro.
– Acalma o coração que eu paro de escrever.
– Mas que horror esconde a sua doçura confusa!
Ah! Você me matou, eu caio da minha árvore.
– Eu preciso ser só, até do olhar de um pássaro.
– Mas se eu estou lá longe, sob as minhas árvores!
Jules de Supervielle
tradução de J. C. Brandão
quinta-feira, 27 de setembro de 2012
AFFONSO ÁVILA (1928-2012)
ARTE DE
FURTAR
O poeta
declarou que toda criação é tributária de outras
criações no
permanente processo de linguagem da poesia
O poeta
afirmou que todo criador é tributário de outros no
processo de
linguagem da poesia
O poeta se
confessou um criador tributário de outros na
linguagem de
sua poesia
O poeta não
esconde que sua poesia é tributária da linguagem
de outros
criadores
O poeta não
esconde que sua poesia é influenciada pela
linguagem de
outros criadores
O poeta não
faz segredo de que se utiliza da linguagem de
outros
poetas
O poeta fala
abertamente que se apropria da linguagem de
outros
poetas
O poeta é um
deslavado apropriador de linguagens
O POETA É UM
PLAGIÁRIO
De O discurso da difamação do poeta.
São Paulo: Summus Editorial,
1978]
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Homenagem a Affonso Ávila, falecido nesta
quarta-feira, 26-9-12.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
MEU PAI POETA
Meu pai (à direita) e um primo
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Ah, veja a elegância - o terno, as botinas, o chapéu (a bengala, parte da indumentária, não aparece porque estavam sentados, fazendo pose para a foto). Isso foi em 1922. Meu pai tinha 16 anos de idade.
MEU PAI POETA
Hoje (depois de vinte e tantos
anos)
descobri que meu pai dizia um
poema
quando repetia, sim, repetia e a
graça estava
nessa repetição infindável... A
graça ou a poesia?
Imagine os dois personagens e o
diálogo repetido,
repetido na voz do meu pai ou
deles mesmos:
– Vais pescar?
– Não, vou pescar.
– Ah, pensava que ias pescar.
Ah, veja a elegância - o terno, as botinas, o chapéu (a bengala, parte da indumentária, não aparece porque estavam sentados, fazendo pose para a foto). Isso foi em 1922. Meu pai tinha 16 anos de idade.
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