quarta-feira, 29 de agosto de 2012

MATÉRIA DE POESIA





MATÉRIA DE POESIA


o mar
a flor selvagem

o prego enferrujado
o não

a minhoca
o osso seco

o papel higiênico
a palavra





sábado, 25 de agosto de 2012

A MORTE DE ZÉ PRETO






A MORTE DE ZÉ PRETO


Quando Zé Preto morreu
como a criançada sofreu!
O Zé Preto contava vantagem,
 era o herói da criançada.
Matava onça com a faca de picar fumo,
caçoava da polícia, se borrava de rir da polícia.

Um dia Zé Preto morreu.
Foi para o céu, disseram as crianças.
Não era um homem de muitas qualidades,
era um homem mau segundo a sociedade,
mas foi para o céu porque essa era a vontade das crianças
e a vontade das crianças é a vontade de Deus.





quinta-feira, 23 de agosto de 2012

HOMENAGEM A NELSON RODRIGUES NO DIA DO SEU CENTENÁRIO





A VIDA COMO ELA É


Um beijo no asfalto chocou o mundo.
Fosse uma flor rompendo o asfalto e o tédio,
mas não o escândalo de um beijo.
A falecida está viva,
o vestido de noiva está rasgado.
a sociedade está morta e rasgada.
Todos os álbuns de família estão rasgados.
Tudo por causa de uma flor de obsessão.






quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O ESPELHO DE BRONZE





O ESPELHO DE BRONZE


A luz entrou no quarto
surpreendeu a flor
e o sangue.

Busco a catarse
mas sou inteiramente
carne.

O abismo dos peixes
é muito diferente do abismo
dos náufragos.

No espelho de bronze
a imagem imperfeita
simulacro de ninguém.





domingo, 19 de agosto de 2012

O SOL NEGRO





O SOL NEGRO


O sol negro derrete o asfalto da avenida.
A mendiga remexe o lixo à procura de comida,
os seus olhos estão secos, a língua está seca, as mãos estão secas.
Sou uma sombra entre os blocos de cimento.
Bebi nos bares, nas delegacias, nos hospitais, nas ruas barulhentas
o silêncio de Deus.




quarta-feira, 15 de agosto de 2012

OS TUCANOS E A VOZ DA EXPERIÊNCIA





A VOZ DA EXPERIÊNCIA



            Num restaurante à beira da estrada, em Caconde, SP, a garçonete me explica:
            – Aqui tem muito tucano, sim senhor. E eles são muito bonitos. Mas, fora isso, não têm serventia nenhuma. Tucano só come os filhotes dos outros pássaros. Tem bico grande e faz muito barulho. Destrói tudo que vê. Tucano não presta pra nada, não senhor.




sábado, 11 de agosto de 2012

terça-feira, 7 de agosto de 2012

domingo, 5 de agosto de 2012

sábado, 4 de agosto de 2012

FURO! ENTREVISTA COM RUBEM FONSECA

                      Rubem Fonseca recebendo o prêmio Correntes d"Escritas 2012 Póvoa de Varzim - Portugal



FURO! ENTREVISTA COM RUBEM FONSECA


“Para cada Central Nuclear é preciso uma porção de poetas e artistas, do contrário estamos fudidos antes mesmo da bomba explodir.”
São palavras de Rubem Fonseca em “Intestino Grosso”, a entrevista com que ele nos brinda sob a persona de um escritor pernóstico, exagerado à caricatura.
“Intestino Grosso” é o último conto do livro “Feliz Ano Novo”. Rubem Fonseca já não dava entrevista, resolveu dar em forma de um conto, mas um censor conseguiu a proeza de ler até o fim, onde estava a condenação: “Ao atribuir à arte a função moralizante, ou, no mínimo, entretenedora, essa gente acaba justificando o poder coativo da censura sob alegações de segurança ou bem-estar público.”
Condenou a censura, que obviamente o condenou.
Eu comprei o meu exemplar de “Feliz Ano Novo” em Dois Córregos, SP, onde eu era professor, em 1975, mal chegou à banca. No dia seguinte estava recolhido pelos guardiões dos Bons Costumes e Boas Maneiras à mesa e à cama.
Essa frase, que fala da função moralizante da arte, não lhes parece feita sob medida para os nossos tempos politicamente corretos?
Um dos modelos criticados pelo escritor pernóstico do conto (que honra ser pernóstico!) é a literatura infantil. Hoje está mais que feita a psicanálise dos contos de fadas, revelando toda a perversidade subentendida sob os bons modos, boas palavras e bons sentimentos.
Era a época do boom da literatura latino-americana. Pois o nosso escritor não só nega a existência dessa literatura como da própria literatura brasileira. Guimarães Rosa estava no auge, era endeusado. Pois o cara era tão pernóstico, só vendo a miséria à porta, que não podia achar que fazia sentido uma literatura brasileira ou latino-americana. Se o brasileiro é tão pornográfico que nem dentes tem na boca, como teria sentido a existência de Diadorim?
(“Desdentados” é a imagem que a persona pernóstica de Rubem Fonseca usa para falar da miséria que se tenta embelezar pintando de cor de rosa as palavras, que são chamadas de palavrões quando se referem a sexo ou a excreções, coisas que todos nós fazemos.)

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Quem, com razão, não ficou safisfeito com a minha crônica (afinal, diz pouco sobre uma possível entrevista de Rubem Fonseca) pode ver e ouvir o show do autor em Póvoa do Varzim, Portugal:




sexta-feira, 3 de agosto de 2012

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

GÊNESE





GÊNESE

A água brota da pedra,
do peixe brota o homem
e a sua cidade.


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A Bauru no seu 116º aniversário.