segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
domingo, 29 de janeiro de 2012
OS PATOS, OS MENINOS
OS PATOS, OS MENINOS
Os meninos levaram o pato e a
pata para nadar
No rio Tietê. Fazia sol,
apesar de algumas
Nuvens. Os patos estavam
eufóricos, quase mais
Que os meninos. Que riam,
olhavam para o pato,
Olhavam para a pata, olhavam
um para o outro,
E riam, riam a mais não
poder.
Os patos mergulharam na água
e gritaram,
Gritaram até perder o fôlego.
Como não perderam
O fôlego, anoiteceu e ainda
estavam gritando.
O pato nadava placidamente
nas águas azuis
Como as do mar, a pata nadava
para o lado oposto
E os dois gritavam a alegria
da vida.
Um menino teria seus nove
anos de idade, o outro
Era quase um adolescente. O
mais velho parecia
Mais novo, com seu ar
efeminado e meio chorão.
Foi preciso voltarem no dia
seguinte para buscar
Os patos sumidos no rio
feliz. Mas nem nesse dia
Os patos quiseram voltar.
Aliás, os patos nem sabem
Querer ou não querer: os
patos sabem nadar
E gritar a alegria da vida.
Uma vez o menino mais novo
segurou a pata,
Mas a pata se chacoalhou toda
e saiu voando
E gritando. O menino mais
velho caprichou
Na cara de choro, mas porque
era seu costume
Essa cara delicada e
dolorida. Os meninos sabem
Que, quando os patos quiserem
(sem querer!)
Voltarão para casa, com eles
ou sem eles.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
sábado, 21 de janeiro de 2012
O POETA URINA ENTREAS RUÍNAS
O POETA URINA ENTRE AS RUÍNAS
O poeta urina entre as ruínas da cidade,
atrás de um muro,
talvez perto de onde foi um templo.
Um pássaro azul canta num galho seco.
Nuvens brancas brincam de carneiros,
galinhas,
coelhos
e pavões.
O poeta urina.
Tudo é efêmero, diz.
Vê um vaso, algum objeto que um dia foi um vaso.
Estranha: um menino e uma menina pintados
na parede côncava do vaso.
Não se vê nenhuma imagem do mar,
mas podem-se ouvir as suas ondas – basta
aproximar o vaso dos ouvidos.
E é pouco mais da metade de um vaso
que o poeta tem nas mãos.
Não há mar próximo, mas pode-se ouvir
todo o mistério do mar,
o seu
abismo
sem
fundo,
nesse antiquíssimo vaso quebrado.
Tudo é efêmero, diz o poeta,
menos o mar.
O inominável
mar das idades, mar anterior a todas as idades.
O poeta olha a pequena poça
de urina
efervescente
e imagina as ondas do mar inumerável.
O pássaro azul deixou de cantar.
O poeta está só.
E é como se estivesse nu.
Tudo é efêmero, menos as areias do mar.
Tudo é efêmero, menos as estrelas do universo.
Tudo é êxtase.
Apesar de tanta solidão.
Nem é preciso haver um pássaro azul.
Nem é preciso haver mais que ruínas.
Tudo é efêmero e mistério e êxtase.
6-1-12 – José Carlos Brandão
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
IDENTIDADE
IDENTIDADE
Como Kafka, fui um inseto monstruoso.
Fui uma toupeira protegida e sufocada sob a terra.
Fui um abutre e devorava a minha vítima parte por parte
até chegar à mais sensível e essencial, a língua.
Fui um rato que não conseguia mais cantar.
Fui um macaco que perdeu a identidade,
da qual conserva apenas o ódio ao amestramento.
Fui um cachorro existencialista.
Fui um chacal que amava o deserto.
Como Empédocles, fui um jovem e uma jovem,
um arbusto e uma ave
e um peixe mudo no mar.
2-1-12 – José Carlos Brandão
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
O MAR E A MONTANHA
O MAR E A MONTANHA
O mar é irmão da montanha. Ambos
beijam o azul do céu.
A águia encolhe a plumagem e
mergulha da montanha para o mar.
Os náufragos saem das águas
ostentando os seus despojos,
sentam-se nas ruas da cidade com
os olhos vazios e a língua inútil.
O dia é uma pantera e afia as
garras diante da terra ensolarada.
Eu sou o sobrevivente e componho
a música do princípio e do fim.
domingo, 15 de janeiro de 2012
sábado, 14 de janeiro de 2012
O INSTANTE ESSENCIAL
O INSTANTE
Onde estão as árvores que estavam aqui
ainda ontem, ainda hoje de manhã?
Costumavam passear nos braços da névoa,
mas sempre voltavam... Não voltarão mais desta vez?
O que as árvores têm a me dizer? O que os pássaros
tanto sussurram? As flores caem, os frutos se abrem
e as águas correm álacres no córrego inquieto.
Eu fico à espreita da fulguração de um instante essencial.
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
O POSTE DE TOMAS TRANSTRÖMER
O POSTE DE TOMAS TRANSTRÖMER
O poste de ferro diante das
ruínas da velha igreja
e nenhuma música.
O sol de metal sobre a montanha
de pedra
queima os pássaros da morte.
Viver ou morrer com a relva que
se alastra
no fundo do poço.
O silêncio do poema como um
sinal de vida
antes da morte.
Descasquei a cebola torcendo o
nariz.
Ganchos rasgavam a carne até o
osso.
Uma a uma iam caindo as faces
sobrepostas
alheias e ainda íntimas.
A cidade multiplica suas
esfinges frias
pelas ruas iluminadas.
As sombras dançam com as
magnólias, deslizam
gemendo sob uma lua de plástico.
12-23-2011 J.
C. M. Brandão
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
PRIMEIRO POEMA DO ANO
O MACACO
O macaco na
jaula do zoológico
faz caretas,
mostra os dentes, funga.
Incomodado com
a minha presença,
talvez me olhe
como num espelho.
Grita, num
guincho dolorido, aflito.
Será meu
ancestral?
Balança a
cabeça, desaprovando.
Estende o
longo rabo e se pendura num galho.
Vantagem sobre
os homens: tem cinco mãos.
Com uma segura
uma banana,
com outra um
graveto e escreve no chão algo ilegível.
E sorri para
mim.
1-1-2012 - J. C. M. Brandão
Assinar:
Postagens (Atom)