terça-feira, 10 de julho de 2012

Poema-orelha (dos Poemas de Amor, 1999)




POEMA-ORELHA
           

O amor é o amor é o amor.
É a forma que, concreta,
se condensa no que, ser,
só é ser quando se funde
na rosa da sua vulva.
É o corpo que se entrega
a outro corpo, que, completo,
se lhe oferece, a ele, corpo.
O corpo ao corpo se doa
e de tal modo perfeito
que a essência da doação
é o próprio corpo primo
que noutro corpo se coa.
Eu disse: o amor é o amor,
o mais são palavras gastas.
Mais não se pode dizer
do amor, senão que é o corpo.
Maior beleza não há,
nenhuma maior delícia
que o corpo quando entra em êxtase,
que o corpo quando se encontra
com outro corpo, no coito.
Repito: o êxtase do corpo
define o amor, inefável.
Nada existe além do coito,
nada existe além do corpo.
Amar é êxtase: corpo
dentro do corpo, além-corpo.
Existir é tão doído
que só a brasa do amor,
só o amor, brasão, suporta.
Eu quero tocar os guizos
da alegria: eu sou feliz,
eu conheço o amor, o corpo
suando estrelas, a mó
moendo, doce, o universo.
Aprendo as lições do abismo,
lições que só o amor ensina.
O amor é o amor é o amor.


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Poema-orelha feito para o meu livro Poemas de Amor, 1999. Na época, achei que não condizia com o livro e não o publiquei.


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