quinta-feira, 19 de julho de 2012

CAIM




   
          Caim


Carrego o sangue do meu irmão para toda a eternidade.
Eu sou o meu irmão morto com uma pedra na cabeça.
Aprendo o que é morrer, o que é acabar.
A morte é o silêncio de uma pedra.

Os lábios de Abel não dirão mais nenhuma palavra.
É isto a morte: este silêncio, este sangue sobre a terra.
Que farei com Abel?
Que é que se faz com um morto?
Que farei comigo? Eu, que inventei a morte?

Nos olhos do meu irmão vejo o universo refletido.
No corpo morto eu conheço o meu tamanho de homem.
O sangue do meu irmão não clama por vingança:
É um espelho.
É a essência do que sou.
É a marca do homem, seu direito e avesso.
O sangue do meu irmão morto me alimenta.


                                    J. C. M. Brandão, in O silêncio de Deus, 2009.


 

2 comentários:

Anônimo disse...

Uau! Poemaço! Uma força, uma dor... Excelente, José!

Beijo.

Quintal de Om disse...

EStremeceu o centro da terra, nessa guerra de partir temores, de distribuir amores (es)corridos nas veias.

Beijo na alma,
Sam.