Sou um velho com uma pedra sobre a cabeça.
A pedra é a palavra, eu digo.
A pedra remove montanhas.
O escuro verga as árvores.
O vento contra as portas fechadas.
Os fantasmas tecelões.
O choro dos fantasmas tecelões sob as portas fechadas.
Qual a saída do labirinto, Senhor?
Os corredores escuros, as tábuas gastas do assoalho,
as ranhuras
e os vãos entre as tábuas, os gemidos no porão.
As chaves foram devoradas pelas aranhas
sob o assoalho.
As aranhas devoram a memória,
a fome, a angústia, o azul indevassável.
É tarde para a paixão?
A pedra pesa sobre a minha cabeça.
As minhas mãos se partem com o medo.
O melro asfixiado.
Os lampiões apagados.
A árvore murcha.
O gavião salta, agarra-me a jugular.
Dispo o meu corpo de aluguel.
Os demônios me esperam.
Digam aos demônios que não irei,
pertenço a Deus.
Ajoelho-me diante da beleza.
Prostro-me por terra diante da beleza.
A beleza é Deus.
Sufoco de delírios.
Lírios brancos se inclinam à minha passagem.
A aranha tece a teia.
A minha face presa no bordado.
Mas eu tenho a beleza.
A gaivota contra a pedra.
A pedra pesa contra a minha cabeça.
Mas eu tenho a beleza.
O mar é o abismo e a beleza.
Eu navego, timoneiro do abismo.
São meus o abismo e a beleza.
______
P. S. - Estou em viagem. Retorno dia 4/11/10.