sábado, 15 de maio de 2010

O louco




O louco

Tinha uma roseira e batia na janela
E as pétalas eram grudadas na vidraça.
Eu pensava no adubo para os canteiros
E pensava na terra regurgitando a vida.

Minha mãe erguia a saia cheia de rosas
E as pétalas eram borboletas e revoavam.
O meu pensamento tinha terra nos dentes
E o grito dos periquitos partia a vidraça.

Só minha mãe sabia que eu era louco.
Eu não tinha morrido e dava risada
Bebendo o leite verde das minhas vacas.

Tinha pimenta nos olhos para ver melhor.
Escrevia com pedras e picadas de abelhas.
A loucura me explica e brilha com a beleza.

_______________

8 comentários:

Adriana Godoy disse...

JC, esses delírios com as coisas mais simples da vida é que tornam o poeta ou o louco diferente dos demais. Gostei imensamente desse poema. Aliás, viajei...beijo.

Anônimo disse...

Envolvi-me totalmente com esse seu poema, coisa mais linda! Senti-me grudar na vidraça, como pétalas úmidas.

Beijos.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Muito belo poema, de poeta e louco, todos temos um pouco, e é bem verdade...gostei do poema.

beijinhos
Sonhadora

Gerana Damulakis disse...

Entrei nos versos: a 2ª estrofe (a saia cheia de rosas), os pensamentos (no adubo, na terra)...
Gosto imensamente de seus poemas.

Edson Bueno de Camargo disse...

Coisa insana esta da gente ser poeta.

Marcelo Novaes disse...

Brandão,


Trata-se do louco que ousa ter abraçado a "translucidez".






Abração.

Wilson Torres Nanini disse...

A loucura do seu poema, de sua poesia toda - creio -, é toda dócil, doce, serena e suscita mais e mais poemas. Estou com um liquidificador de idéias depois de ter ler, agora!!!

Abraços!

BAR DO BARDO disse...

Mãe perdoa tudo. Até filho poeta...