sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

AUTORRETRATO COM VOTOS DE FELIZ ANO NOVO



                                
AUTORRETRATO
COM VOTOS DE ANO NOVO


Quiseram-me para padre
mas era muito difícil
viver com a molecada
no seminário dos padres

(dos futuros padres – na marra!
porque muitos são chamados
e poucos os escolhidos
– e quem não é escolhido
vai para os quintos do inferno!)

O jeito foi descobrir
a poesia – sinal de liberdade
com um anjo de cada lado
e as duas mãos de Deus no meio

Deus nunca mais me largou
por mais que eu esperneasse
fizesse o diabo a quatro
e ficasse todo estropiado
de não ter mais jeito não

A poesia nunca mais me largou
por maior que fosse a preguiça
e esperasse que os poemas
caíssem se espiralando do céu
– nem que fosse o céu das cabras
ou dos bodes chupando manga

Poesia é iluminação
mas Deus não dá assim de graça
é preciso quebrar a cabeça
o joelho e o tornozelo
brigar com os anjos como Jacó
tirar leite da pedra
e sangue da terra

(Verdade que certos poemas
não têm jeito não
Como talvez
este que lês
que é como pau que nasce torto
Também, não briguei com a cobra
nem briguei com nenhum anjo)

Juro que sou feliz
como Mário de Andrade
que morria de sofrer
mas achava a vida gozada
e proclamava: “A própria dor
é uma felicidade.”

Neste ano que principia
desejo a todos muita poesia
paz, saúde e alegria
Deus esteja com vocês
meus amigos, meus inimigos

(mas eu não tenho inimigos!)

As sementes do amor
se multipliquem em todos
os corações – e Viva a vida!



quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

O relógio (poeminhas)




                                
CORES

A flor e o coqueiro
disputam o céu azul.
O verde e o vermelho


O RELÓGIO

O relógio cego
chora de hora em hora
a cinza do tempo.


A FERRUGEM

A ferrugem cobre de ouro a chave.


A CHUVA

A chuva lava a terra
nua, sensual, mortal.


O POEMA

O poema é o leito de um rio
com a água e os peixes sempre novos.


ANIMAL

Sou um animal estranho
tão humano
diante de uma pedra.


A ROSA

A rosa floresce
e esquece.


A FÉ

A fé move montanhas.
(Às vezes apenas um rato.)


A ROSA DE DEUS

Onde a rosa de Deus?
Sonho a forma da luz
sobre a roseira.





segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Os morcegos verdes (poeminhas)



                                        
COMPOSIÇÃO

O pássaro e a flor
compõem a paisagem.


CÍRCULO

O círculo da pedra na água
renova-se em outro círculo
até desaparecer.


ALTURA

O sol e o vento,
entre as árvores e o céu,
conversam na montanha.


PERFUME

Daquela noite, a vida,
resta apenas
um perfume de jasmim.


O MINOTAURO

O Minotauro morreu,
com o seu labirinto de estrelas,
quando eu morri.


MORCEGOS VERDES

No beiral da casa,
como morcegos verdes,
as duas maritacas.


A COR DA AURORA

O poema sabe
a cor da aurora,
mas cala.


A LUA NO LAGO

A lua no lago
coaxa como uma rã.


ESTRELAS

Estrelas se apagam
no pasto, entre os pirilampos.


O MELRO

O canto do melro
embala as águas do rio.





quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O mistério do Natal

                                 

                  
O MISTÉRIO DO NATAL


E o anjo do Senhor anunciou a Maria
E ela concebeu do Espírito Santo.
Dois mil anos se passaram
E ainda se ouvem as trombetas da alegria.
A estrela brilha no alto da montanha
E ilumina o universo de esperança.

A terra inteira festeja o Mistério.
O primeiro milagre de Jesus
Não foi mudar a água no vinho em Caná,
Mas tornar-se homem no ventre de Maria.
Sem deixar de ser Deus,
Jesus se esvaziou da divindade,
Ganhou carne e alma humana para a Redenção.

O homem não se salvaria
Se o Salvador não nascesse de Maria.
Os pastores e os reis adoraram o Menino
Envolto em panos e deitado na palha,
Deitado no leito de madeira como a cruz do Amor.

Maria é a nova Eva,
com a maçã na mão e a serpente aos pés,
Jesus é o novo Adão
Da aliança eterna, sempre nova.
O pão e o vinho são a carne e o sangue
Da ação de graças de toda a Criação.

E tudo começou na estrebaria,
O Menino nascendo de Maria.
Cantamos a primeira igreja: Jesus, Maria e José.
Na sagrada família de Nazaré
O amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.


_________
Escrevi vários poemas de Natal. O melhor foi postado neste blog há um ano - quem não viu ou quer recordar, está aqui. É mais a minha cara, minhas inquietações, meu carinho especial por aquela terra, onde um dia foi a Mesopotânia, onde correm os rios Eufrates e Tibre, que banhavam o Paraíso Terrestre. O poema trata da invasão anterior, é de 1998.
Este é mais didático, doutrinal, feito de encomenda, mas a grandeza da festa da Encarnação de Deus tem muita poesia que merece ser mostrada.
Feliz celebração do Natal de Jesus. 




segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O rio do tempo e outros poeminhas




A SOMBRA DO RELÓGIO

A sombra do relógio
com seu pêndulo implacável
no espelho.


O DIA IMÓVEL

O dia imóvel,
na planície deserta,
passa.


LOUSA

Passou por aqui.
(Nem a sombra deixou.)


ESTRELAS CRUÉIS

Ó estrelas cruéis
zombando da sorte
como pedras vivas.


O RIO DO TEMPO

Ouça, na sombra,
o rio do tempo.


A PORTA DA LEI

Cheguei à porta da lei, com Kafka ao lado.
Sorrimos tristes para a areia da ampulheta.


CAIM

Os filhos de Abel
chamam-se, todos, Caim.


A BORBOLETA

A borboleta azul, preta e branca
no tronco sem casca da árvore.
Medita sobre a sua sombra verde.


BRONZE

Inscrevo o meu poema
no bronze do mar.



sábado, 18 de dezembro de 2010

Poema de Natal



poema de natal 1984

o céu não está mais próximo nem mais frio
somos quem somos
sem nenhuma angústia
nenhum pesar

sob os brancos lençóis
entre as tuas coxas
amor
a rosa efêmera
mas eterna
no mito de que somos feitos

teu coração bate mais forte
numa certeza única
e múltipla
como as sendas da noite inumerável

o poema é uma pedra de fogo
queima os olhos
e o vôo dos anjos

é natal
nasce a estrela
sábia e ingênua como a água

existimos
não sofremos
nascemos no sonho
e acordados
nos reintegramos à sombra cotidiana

submersos no mistério
amor
somos o sonho

natal
nasce o deus
que em nós adormece
e sonha





quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Arte poética

IL PESCATORE FILANDO LA RETE



           Arte poética


Quero escrever como um velho que tece a sua rede
até gastar os olhos e os dedos, como Penélope
à espera de Ulisses, como Ulisses
enfrentando a morte mil vezes.

Quero escrever como o ferreiro moldando o ferro em brasa
na forja, como o escultor moldando
a pedra fria,
como um louco
tirando leite da pedra
e bebendo.

Quero escrever como uma criança
esperando a pedra florescer.

Quero escrever como o meu pai
preparando a terra
e esperando
a chuva e o sol,
o tempo de plantar e o tempo
de colher.

A poesia é um longo exercício de paciência.
A palavra precisa morrer, como a semente, para renascer.

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A casa da poesia





A CASA DA POESIA

Subi a mais alta pirâmide
e gritei
Daqui os séculos me contemplam
como Napoleão
embora seja mentira.

O poeta não é necessário
embora a poesia seja amada.
Afinal ninguém sabe o que é a poesia
e se soubessem
de que lhes adiantaria?
A vida é cheia de conhecimentos inúteis.

Napoleão não era inútil
embora fosse mentira.
Depois que Napoleão morreu
todas as viúvas de Nápoles e do mundo choraram.
Napoleão fez uma falta danada.

Eu não farei falta nenhuma.
A poesia é a arte do êxtase
que até os santos desconhecem.
Nem os poetas dominam a arte da poesia,
não sabem mais contemplar a luz.
A poesia cega.

A poesia é terrível
porque cega.
O pior mal do mundo foi terem inventado a poesia.
Inventaram junto a noite escura.
A noite escura mais o poeta,
esse ser de escuridão.

                   O poeta existe para sonhar a luz,
                   a impossível luz do êxtase.


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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A gata e o telefone





A GATA E O TELEFONE


A gata que pintou o telefone,
com sensualidade feminina,
numa manhã qualquer, de muito sol,
a gata alegre como um girassol.

A gata, ágil, num pulo se acomoda
sobre o balcão, onde descansa o branco
telefone. Rodeia-o, senta-se em cima
como num trono régio, soberana.

Quem diria que a gata sofreria,
nessa hora, de uma repentina dor
de barriga? Aliviou-se e com um líquido
cor de ouro o telefone revestiu.

No pomar, no jardim, na sala quieta,
a gata bela como uma romã
abre-se, desabrocha ao sol, sangrando
diamantes de luz no ar da manhã.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Fábulas de Natal 3




            A CASA EM CHAMAS


Encontro a casa em chamas.
Contemplo a fuligem nos lábios da mulher.
As trombetas acordam o oceano.
Quebro os grilhões.

Os meus passos ecoam nas longas escadarias.
O meu cavalo me chama.
O semeador lança a semente na terra arada.
O menino flutua sobre o berço.

O menino é a chave do enigma.
A manhã se levanta com os pássaros.
As árvores cantam.

O universo se prostra.
Ostento o poema com um estigma.
A minha língua sangra.



A FACE DO ENIGMA

O menino voa sobre as ondas.
Traz nos ombros uma pomba branca.
Viemos do mar do esquecimento.
Os anciãos descascavam a espiga da morte.

Os anjos tocavam harpa
Enquanto caminhávamos pelo desfiladeiro.
Não haveríamos de tombar no campo de batalha
Como os grandes blocos de pedra que tombavam do alto.

Avalanches sobre avalanches nos tolhiam o caminho.
A minha casa girava, rodopiava.
A minha casa era um ninho na tempestade.

Estou pronto para o martírio.
Estou pronto para o fim do mundo.
Existo para ver a face do enigma.



AS ASAS DO PÁSSARO

O pássaro bateu as asas até ao sol.
Caíram gotas de sangue em fogo.
Viajo no bojo do ciclone até o trono de Deus.
O céu deságua, inunda o mundo de espumas.

Os anjos perdem as penas.
Eu adoro o piano negro, absoluto.
Um relâmpago ilumina a minha casa.
A âncora reluz sobre o rochedo.

Ouço o silêncio
Límpido como um seio.
O estrangeiro cego apalpa a bruma.

As chagas das suas mãos sangram.
O mar se abre.
O pescador lança as redes.


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3 º Domingo do Advento: Alegrai-vos!

O fato de sermos cristãos exige que tenhamos fé e esperança, mas a paciência é necessária para que elas possam dar seus frutos” (São Cipriano). 

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

NO MURO DAS LAMENTAÇÕES





NO MURO DAS LAMENTAÇÕES

Rabiscou seus desejos e os enfiou numa fenda
no Muro das Lamentações.

“Foi atendida?”, perguntou um cético,
“não é o mesmo que estar falando com pedras?”

Ela não tirou os olhos do Muro, movendo continuamente
os lábios trêmulos. Eu mesmo tive que responder:

“Ela
fala com pedras. Deus escuta.”

Bombas caíam não muito longe. No Muro apenas se ouvia
o silêncio de Deus.



AS CHAGAS

Pôs o dedo em minha chaga: queimava.
Pus o dedo em sua chaga: iluminava.

A sua chaga e a minha chaga são uma só chama
e queima e ilumina a noite mais escura.

Os cravos são de ferro e ferem a carne pobre.
Os cravos são de ouro e coroam a alma nobre.

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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O poema





                           O poema

     
O poeta levou a concha ao ouvido
e ouviu o mar, um mundo submarino
familiar e longínquo como o fim do mundo.

As gaivotas vieram das brumas do horizonte
e pousaram nos ombros do poeta.

Navios resfolegavam como cães cansados,
subiam e desciam entre os vagalhões.

O poeta está sentado à mesa da cozinha
ouvindo o apito do trem como se fosse um navio
se aproximando.

                               Olha pela janela as estrelas
caindo.
                        Aperta as estrelas no punho fechado.
O relógio está parado.
                                         O poema explode,
o poema mede o tempo com a sua bússola
de sal, um tempo diferente do tempo dos homens,
semelhante ao tempo de Deus.
                                                   Depois, o silêncio.

(O poema se alimenta de silêncio e solidão
como os homens.)

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sábado, 4 de dezembro de 2010

Fábulas de Natal (2)





O MENINO NASCEU

O menino nasceu ao meu lado.
Um halo de luz fendia as trevas,
Vinha do alto e se expandia.
O galo arrebentou a garganta.

O cavalo cantou as palavras do poema.
Uma frágil parede nos separava do mundo.
O cavalo escarva o chão soltando fogo pelas ventas:
Era o meu poema queimando a noite.

O sangue inundava o quarto.
A caçamba do tempo vem do fundo do poço,
transbordando água limpa e fresca.
Trago o estigma na fronte.

Sou lavado pelo batismo do menino.
Vejo os ossos brancos sobre a pedra.
O menino ergue a chave com a mão pequena
E me abençoa.


   O POEMA DO MILAGRE

Sou uma pedra no meio da casa
Com os ossos do cão cruzados em cima.
Quando chegará o inimigo?
Sentaremos juntos, conversaremos, sorriremos?

Comungaremos a minha casa antes de nos estranharmos?
A minha mãe chora atrás da porta,
A cabeça coberta com o pano da dor.
Um espinho me penetra nos olhos com o poema do milagre.

O nome do menino me queima a língua.
Os olhos do menino estão em brasa e iluminam a noite.
A casa cai com a luz.

As flores voam, as pétalas são gotas de fogo.
A mulher entrega o menino ao estrangeiro.
O velho ergue o menino nos braços e canta.


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                 ( poemas de Natal, 2007)

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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O poeta e o político


                                                   


O POETA E O POLÍTICO


Qual é a diferença entre o poeta e o político?
A política não é poética?
A política é a arte de governar os homens.
A poética é a arte de governar as almas,
que são a essência dos homens.
A poética é a política elevada à máxima potência.


Depois é o nada,
a madrugada quando os olhos cegam
porque foram iluminados pela poesia.





quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um cão uivando para a lua




Um cão uivando para a lua


Abro a janela para o terreno baldio
cheio de mato, lixo e algumas cabras
(eu joguei fora todas as palavras)
– e vejo um cão uivando para a lua.

O cientista e o filósofo discutem
a origem do universo, o ser e o nada
e não sobram ideias nem palavras
– além de um cão uivando para a lua.

Latem os cães e a caravana passa,
passaram as carroças da desgraça
com as palavras da ambição dos homens
– só resta um cão uivando para a lua.

De tanto misturar o joio e o trigo,
de tirar da ostra a pérola da dor
e queimar as palavras no poema
– só resta um cão uivando para a lua.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Três paráfrases




                                
1. O carrinho de mão vermelho

Quando criança eu tinha um carrinho
de mão vermelho
como William Carlos Williams.

Vivia marcado de cocô de pomba
branco
sobre o vermelho.

Eu enchia o carrinho de pedaços
de madeira e partia
para construir o mundo.

Nada mais tinha importância.


2.A PEDRA

Uma pedra é uma pedra, é uma pedra.
Não quero que a pedra seja outra coisa.
A pedra em si vale um poema.

Não é preciso dizer nada.
Nenhum símbolo, nenhuma imagem.
É uma forma completa, única, absoluta.

É um poema.


3. EM CRETA, COM O MINOTAURO

Em Creta, com o Minotauro
esquadrinho o labirinto.
Instauro o meu reino restrito.

O sol queima os sonhos.
Eu quebro o candelabro.
Desenrolo o novelo da dor.

A esfinge me decifra: sou
o poeta com a lira em delírio
em Creta, com o Minotauro.


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1. O Carrinho de Mão Vermelho talvez seja o mais famoso poema de William Carlos Willians. É certamente o que mais exemplifica a sua técnica de tirar do poema tudo que é excesso, usar palavras comuns, criando uma pintura clara, quase sem imagens. Não merecia que eu lhe acrescentasse nada, e não o fiz. Acontece que eu tive um carinho de mão vermelho, que enchia (uma amiguinha de infância, uns quarenta anos depois, me lembrou o caso) de pedaços de madeira, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo. Então, eu precisava registrar o fato.
O poema de WCW é lido fora do contexto. WCW era médico-pediatra e estava em visita ao uma menina doente, em agonia, quando viu pela janela o carrinho vermelho. Daí a sua importância, que, no meu caso, é simples memória.
Deixo abaixo o poema de WCW, para lembrar aos leitores – mais do que comparar.

THE RED WHEELBARROW

so much depends
upon

a red wheel
barrow

glazed with rain
water

beside the white
chickens.

 

O CARRINHO DE MÃO VERMELHO

tanta coisa depende
de um

carrinho de mão
vermelho

esmaltado de água de
chuva

ao lado das galinhas
brancas

(Trad. José Paulo Paes)

2.  O verso “Rose is a rose is a rose is a rose” deve ser mais conhecido do que todo o resto da obra de Gertrude Stein. E é vítima de uma falácia: faz parte de um poema de 1913, e o primeiro Rose refere-se ao nome de uma pessoa, - mas é outro texto lido fora do contexto, como a afirmação de que as coisas são o que são. É nesse sentido que empreguei no meu poema. Francis Ponge ensina no “Le parti pris des choses”, justamente esse “as coisas são o que são”, que eu já aprendera com João Cabral.
Tenho cansado de ver a citação dos versos de Adélia Prado: “Deus de vez em quando me castiga. / Me tira a poesia, olho para uma pedra e vejo uma pedra.” Elogiosamente. E são belos versos. Mas citados fora do contexto, um dos mais longos poemas de Adélia, que fala da condição humana, não da técnica poética. Quanto à técnica, ela sabe que a poesia é linguagem. Que as palavras se tornam especiais com o trabalho da linguagem no poema.
O meu poema refere-se a essa ideia.

3. “Em Creta, com o Minotauro” é o nome de um dos melhores poemas de Jorge de Sena. Vi à exaustão o Minotauro nos labirintos de Jorge Luis Borges. Já não era novidade para mim, por minha formação clássica. É o meu poema mais pessoal dos três acima, quanto a linguagem e visão do mundo. 

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