quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Aleijadinho 18-11-1814+



Deixei os pedaços da minha carne nas ladeiras de Ouro Preto.
Entre as pedras do calvário das ladeiras de Ouro Preto
Deixei os pedaços da minha carne e dos meus ossos.
Mutilado pelo divino, esculpo a forma do divino.

O meu coração é de pedra e rói como o ódio.
Eu trabalho o corpo de Deus, eu, o sem-corpo.
A pedra me obedece com uma fé cega.
Deixei um pedaço do meu nariz na pedra cega.

O cinzel amarrado no coto da minha mão
Faz saltar lágrimas e sangue da pedra muda.
A minha fronte, face e beiço estão grudados na pedra.

Talho a imagem de Deus à minha imagem.
A pedra sabe e fala sob o meu cinzel.
Do fundo do meu horror, olho para o céu – petrificado.

9 comentários:

Adriana Godoy disse...

JC, você foi fundo e se transformou na alma e na carne do Aleijadinho. Acho mesmo que ele poderia ter feito esse belo e pungente soneto. A foto maravilhosa! Arrasou! beijo.

nydia bonetti disse...

Pedaços de carne e alma inteira, JC.
Maravilhoso o trabalho de Alejadinho. E os seu soneto, digno do mestre.

beijo.

Anônimo disse...

Lindo José!
Emocionante!
Bjs.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Muito bonito...gostei
Beijos
Sonhadora

Talita Prates disse...

Que texto maravilhoso!
Uma bela biografia poética, poeta!

Adorei esse
"Eu trabalho o corpo de Deus, eu, o sem-corpo."

Muito bom.

Bjo. :)

:.tossan® disse...

Muito bom! Gostei muito do que e como escreve. Abraço

BAR DO BARDO disse...

Dos que sabem:

Eu trabalho o corpo de Deus, eu, o sem-corpo.
A pedra me obedece com uma fé cega.

Sonia Schmorantz disse...

Quem tão disforme, poderia dispor tanta beleza na pedra, não fosse uma alma igualmente bela?
Um abraço

Tais Luso de Carvalho disse...

'Deixei os pedaços da minha carne nas ladeiras de Ouro Preto.
Entre as pedras do calvário das ladeiras de Ouro Preto
Deixei os pedaços da minha carne e dos meus ossos.
Mutilado pelo divino, esculpo a forma do divino'.

Vi o documentário da vida e obra de Aleijadinho. Toda a obra sacra barroca é apaixonante; Ouro Preto, bela! E esse seu poema é forte e emociona.
Obrigada, amigo!

bjs
tais luso