terça-feira, 28 de julho de 2009

Poente



Fui milagrado de garça no poente.
O sol deslizava na água calma do rio.
Eu voava, bicava uma nuvem que não era, me espreguiçava,
azeitava o bico, contemplava.

A rãzinha conversava com o joão-grande, ele nem ligava, cismava.
Grandes cismas as nossas. Eu com um pé dentro da água
que passava, passava sem sair do lugar.
Água é coisa que nunca sai do lugar,
diferente do sol, que cai, se machuca para ser outro.

Eu cismava e voava com uma nuvem no bico, coloria, contemplava.
Ser Deus é essa graça – essa garça levada.
Paira sobre a água, leva a água: desenha o poente
como quem põe um ovo fragílimo abrindo um arco-íris, garça-íris.

Estou dentro da água, milagrado de garça.
O poente bóia na fogueira acesa com o sangue do sol degolado.

10 comentários:

Adriana Godoy disse...

"O poente bóia na fogueira acesa com o sangue do sol degolado. " O poema todo é uma maravilha, imagens alucinantes, a natureza viva e a simbiose com o poeta. Esse último verso é de chorar de tão belo. Obrigaga, JC, por esse presente. Bj

nydia bonetti disse...

o sol está morto.
mentira
amanhã ele nasce outra vez
pra morrer amanhã outra vez...
sorte da água que passa, passa e passa... sorte da garça, que voa, voa e voa... sorte nossa conhecer um poeta que escreve assim. :)) beijooo

Anônimo disse...

Lindo poema José!
Minha filha adora o poente. Todos os dias ela me chama para ver o sol sumir entre as montanhas. Eu sempre vou, porque acho bonito demais da conta esta sensibilidade .
Bjs.

Almirante Águia disse...

A visão natural das coisas, deveriamos todos, viver mais o lirismo destes momentos reais.

Grande Abraço

Pedro Luso de Carvalho disse...

Caro Brandão,

Essa agradável sensação de quem está junto à água, com o sol se pondo, não é muito diferente da que eu sentia quando guri, deitado sobre a grama, num dia claro, olhando absorto as poucas nuvens, que, ao se moverem, criavam imagens de animais e pessoas.

Mudando de assunto: li dois textos teus no site "A Garganta da Serpente", onde também tenho textos pulicados.

Um abraço,
Pedro

Fernando Campanella disse...

Boa tarde, Brandão. A contemplação, novamente a tarde surreal, o objeto filtrado por nós. Deus é a garça e tudo mais em nós: a graça. Grande abraço.

BAR DO BARDO disse...

garça-íris é tontice de poeta

o poema, genial

ai ai
por que elogiar se ele já sabe?...

o porquê eu não sei

Art'palavra disse...

Mestre carlos Brandão: seu blog faz parte das coisas que eu gosto, tanto assim que que estmpei naminha página um presentinho pra você: o Selo Blog de Ouro. Paz em Ñanderu, Grauninha

Anônimo disse...

Obrigada pelo comentário seo moço. Eu estou sempre por aqui me deliciando com os teus escritos de poeta...
esmaques pra ti guri!!!

Marisete Zanon

Doroni Hilgenberg disse...

José Carlos,

A natureza encanta e feliz é o poeta que consegue captar esses momentos magicos entre o poente, a garça e a água e fazer um belo poema.
bjs