quarta-feira, 3 de junho de 2009

Cesare Pavese - uma tradução




A MORTE VIRÁ E TERÁ OS TEUS OLHOS

A morte virá e terá os teus olhos –
esta morte que nos acompanha
da manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito calado, um silêncio.
Assim os vês cada manhã
quando, sob ti só, pendes
no espelho. Oh, que esperança,
nesse dia saberemos, também nós,
que és a vida e és o nada.

A morte tem um olhar para todos.
A morte virá e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
ressurgir uma face morta,
como ouvir os lábios fechados.
Desceremos mudos ao abismo.

22 de março de 1950.

Trad. – José Carlos Brandão

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VERRÀ LA MORTE E AVRÀ I TUOI OCCHI -

Verrà la morte e avrà i tuoi occhi -
questa morte che ci accompagna
dal mattino alla sera, insonne,
sorda, come un vecchio rimorso
o un vizio assurdo. I tuoi occhi
saranno una vana parola,
un grido taciuto, un silenzio.
Cosí li vedi ogni mattina
quando su te sola ti pieghi
nello specchio. O cara speranza,
quel giorno sapremo anche noi
che sei la vita e sei il nulla.
.
Per tutti la morte ha uno sguardo.
Verrà la morte e avrà i tuoi occhi.
Sarà come smettere un vizio,
come vedere nello psecchio
riemergere un viso morto,
come ascoltare un labbro chiuso.
Scenderemo nel gorgo muti.

22 marzo 1950

Cesare Pavese
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foto em http://www.bravagente.com/not01_0309/ital_not20090307a.htm

10 comentários:

Adriana Godoy disse...

Nossa!! Que belo! Que poemaço. Tradução porreta. A morte nos ronda brincamos, escapamos todos os dias, mas um dia "desceremos mudos ao abismo". Excelente escolha! Beijo.

Ariadne disse...

Acredito que a razão mais profunda de toda solidão humana é a saudade de Deus. Na morte, cada um está sozinho. A morte significa a solidão completa e última. Ela nos faz solitários e nos mergulha na solidão extrema. Assim a solidão pode ser um desafio para que eu me entregue a Deus inteiramente e sem reservas. Abraços!

nydia bonetti disse...

A morte tem um olhar para todos nós, como a vida... Que poema JC.

Anônimo disse...

Oi querido!
Tenho duas questões para tratar com vc.
Primeira não conhecia o Cesare Pavese. Gostei muito do poema e da sua tradução.Vou procurar conhecer outras obras.
Segunda um dia quando vc tiver tempo me explica aquela questão com o Saramago, acho que não entendi muito não.
É sempre um prazer vir aqui te visitar.
Bjs.

BAR DO BARDO disse...

Então, o sr. também é tradutor...

Não domino o italiano (tampouco o português) mas gostei bastante do texto.

Maria Maria disse...

Olá, querido poeta tradutor!

Bonito poema, pesquisarei mais sobre o Cesare Pavese, não o conhecia. E obrigada pela visita ao espartilho.

Bjs

Beatriz disse...

Oportuna a postagem dessa tradução nesse momento em que o acaso nos mostra a cara. E a morte fica mais inexplicável Boom! O que aconteceu? O mar sabe?
E vc fez há muitos anos! Um jovem poeta e já era genial. E se vc traduzisse agora. Seria diverso?

José Carlos Brandão disse...

Bea, mereço ser chamado de velho - mas em 1950, quando Pavese escreveu, eu tinha apenas 3 anos de idade. Eu traduzi em 2008 ou 2009.
Beijos.

Anônimo disse...

o primeiro verso deste poema tem uma força brutal... é muito bom :)

beijinhos.

Graça disse...

Que magnífico poema, José,não conhecia o autor... e como traduzir poesia é fazer poesia... magnífico o "seu" poema também.

Um beijo meu