quarta-feira, 25 de março de 2009

Réquiem




































Parem as máquinas, parem todos os motores
Queimem os livros, as enciclopédias, todas as cifras
Todos os poemas, as palavras e as imagens
Queimem o homem e a sua verdade implausível

Morreu o poeta, o mundo não é o mesmo
A memória do próprio tempo, das árvores e das águas
Desfaz-se ao contato humano, à vigília, ao clarão da aurora
As paredes caem, os olhos explodem no labirinto

O ouro da sombra desmorona, desmorona
O azul do céu e o azul do mar são muito frágeis
Não nos contaram que era tanta a solidão

Parem as máquinas, chegamos ao esquecimento
Queimem os poemas, as imagens continuam cegas e mudas
Nós continuamos perplexos diante da porta sem fechadura.


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Igreja Nossa Senhora do Carmo, Mariana, MG; altar e inscrição tumular no assoalho. Fotos e poema de JCBrandão.

13 comentários:

Victor Gil disse...

Oi amigo.
Os poetas são loucos? Mas só as armas das nossas palavras poderiam mudar o mundo.
(Os poetas também morrem, são ramos que quebram, pedras que rolam, rios que gelam)

Por isso eu vou rasgando
a bruma impenetrável das paixões,
percorrendo as noites entre fios de navalhas.
Estendem-me deliciosas ciladas,
ancas, colos, seios nús
das mulheres abandonadas.

Já não trago comigo as janelas que me espreitavam.
Aqui só existem cortinas quietas,
presenças estranhas,
onde me falta o vento
sussurrante das montanhas.

Mas trago a vontade em falar de amor
à surdez das ruas,
amores proíbidos.
Exilado em sonhos e silêncios,
oculto em desejos escondidos,
só escuto as palavras que os poetas choram.

Para que os ramos não quebrem,
as pedras não rolem,
os rios não gelem
e os poetas nunca morram.

Um grande abraço.
Victor Gil

nydia bonetti disse...

"Não nos contaram que era tanta a solidão" Também isto tivemos que descobrir sozinhos...
Belíssimo poema, JC.
Um abraço
Nydia

José Heitor Santiago disse...

A porta está por abrir;
as palavras terão a força que lhes queiramos dar
e a poesia a serenidade que nos fará traspassar qualquer insignificante sólido.

Abraços poema,

jhs

tchi disse...

Os poetas não morrem. O mundo é que os "engole" e nem sempre os entende.

Beijinhos.

Beatriz disse...

Olá José!
O poeta morre , mas fica sua obra...seus poemas...seus medos...suas alegrias...seus desabafos...pois tudo o que nasce sabe uma certeza, que terá um fim!
Deixo um bjo e o meu sorriso.
Bea

Mírian Mondon disse...

Caramba José Carlos... dessa vez voce me pegou de jeito...tanta coisa se pode ler por aí, algumas belas, outras nem tanto... mas voce não apenas consegue criar belas imagens, mais do que isso, elas representam universos de beleza simples e densas.
Lindos poemas!
Parabens!

vieira calado disse...

Um excelente poema!

O meu abraço

José Heitor Santiago disse...

Grato, José pelo seu amabilíssimo comentário!
Abraços poema,
jhs

Adriana Godoy disse...

Belo poema que, casado com as imagens, dá um significado especial a sentimentos de memória, de angústia, de perplexidade, de solidão. Muito lindo. Abraço.

Graça disse...

E sempre que morre um Poeta, o Mundo fica tão mais triste! Mas ficam as palavras... essas que guardam todo o sentir da vida... da poesia. [como a tua]

Beijos meus

Pedro S. Martins disse...

chegarão ao esquecimento trabalhado por essas mesmas máquinas.

Sonia Schmorantz disse...

Belo poema e imagens, mas poetas não morrem, porque as palavras continuam enquanto alguem as ler, as reescrever...
Um abraço e uma ótima semana

BAR DO BARDO disse...

texto e fotos para a perplexidade genuflexa...