sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Nasce um poeta



Não me lembro, naturalmente, do primeiro livro que li. Mas o primeiro livro de poesia que li lembro bem: “Os Simples”, de Guerra Junqueiro. Foi quando descobri que o poeta era um cara de carne, osso e pescoço como a gente. E que a gente simples da roça, os bichos, as árvores, o ambiente da minha infância, enfim, podiam ser matéria de poesia. Portanto, se eu me esforçasse, se aprendesse as manhas, as técnicas do ofício, poderia também ser poeta.

Já quiseram me desqualificar essa lembrança, talvez num elogio: eu seria poeta de qualquer forma, encontrando-me com Guerra Junqueiro ou não. Talvez, mas para mim, se não foi essencial, foi tão bonito esse encontro que é como se fosse essencial.

Eu era seminarista em Rio do Oeste, SC, quando me caiu nas mãos um exemplar velhíssimo, que tinha todo o sabor de novidade do mundo. Nos livros escolares eu já lera poemas de Camões e Bocage, Bilac e Alphonsus de Guimaraens ou Cruz e Sousa: não eram gente, mas entidades algo abstratas. Guerra Junqueiro foi o primeiro poeta que eu conheci. Era um homem como o meu pai, o meu avô, os homens da roça que eu conheci.

Abra um livro e encontrarás um homem – nunca um adágio caiu tão bem. Abri “Os Simples” e foi uma iluminação. Eu descobri que a palavra tem mais poder do que dar nome, convencionalmente, às coisas. A palavra criava as coisas. Tinha o poder de criar o mundo.

Os poemas são órgãos ligados por artérias especiais ao poeta que os criou. São partes do poeta. O conjunto desses poemas, um livro, é o poeta. Posso estar exagerando, querendo assim pagar uma dívida a Guerra Junqueiro, mas é o que sinto, o que intuo, com força de verdade: somente o livro pode revelar o poeta, não poemas isolados, por melhores que sejam.

Continuarei esta crônica para falar um pouco mais de Guerra Junqueiro, para tentar explicar por que ele foi importante para mim, embora já tenha dado a resposta: porque no seu livro “Os Simples” encontrei um poeta, e descobri que o poeta é um homem.

5 comentários:

Ester disse...

Oi querido amigo!

Como não tenho seu e-mail, vou passar algumas instruções sobre a Blogagem Coletiva por aqui mesmo:

A blogagem coletiva gira em torno de um tema central que é "Inclusão Social", dentro desse tema há muito o que ser falado sobre as minorias marginalizadas, sejam elas moradores de rua, favelados, deficientes físicos, vítimas de racismo, vítimas de violências domésticas, viciados, etc... Você poderá postar um texto de sua autoria dando sua opinião, ou colocar texto de outros autores, escrever uma poesia, colocar vídeos, enfim, vc escolhe a maneira como vai postar.

Todos os participantes irão postar no mesmo dia, que é dia 09/03. Se houver algum problema de postar nesse dia, postar antes e deixar para que os outros participantes possam ver sua postagem e comentarem. Todos irão visitar uns aos outros. A idéia é essa conhecermos novos pensares e novas pessoas.

Todos postarão em seus respectivos blogues. E se possível, colocar o selo da blogagem coletiva no lado direito de seu blog para ajudar na divulgação.


Qualquer dúvida entre em contato!


Abs,

Beatriz disse...

Gostei do texto. Espero a continuação.
Nada li, ainda, de Guerra Junqueiro.
Essa descoberta do homem no poeta deve ter sido mesmo importante. Ah, gostei muito.

Marcos Pontes disse...

Entendo bem essa sua relação com Junqueira. Eu escrevia envergonhada e secretamente minhas coisinhas até dar de cara com Millôr na Veja, algumas décadas atrás. Lá ele diia: "O livre pensar é só pensar". Foi o empurrão que eu precisava pra não me envergoinhar mais de pensar e escrever.

Paula Raposo disse...

Concordo inteiramente contigo. O Poeta é um ser humano, que se expõe e sente o que escreve, escrevendo o que sente...muito belo!! Beijos.

Unknown disse...

Humm sabio poeta ne..para fazer essa junção toda deve ter dom e criatividade..para encaixar cada texto e nao deixar ambigidade....

parabens